Os jogos de combate em primeira pessoa como a série Call of Duty ou mesmo os que simulam estratégia de guerra, como os da grife Tom Clancy, ...
Os jogos de combate em primeira pessoa como a série Call of Duty ou mesmo os que simulam estratégia de guerra, como os da grife Tom Clancy, não respeitam tratados internacionais, como as convenções de Genebra. É o que diz relatório sobre o tema. Mas será que os jogos deveriam respeitá-las?

Duas organizações suíças, a Pro Juventute, cujo objetivo é proteger as crianças da violência ilimitada em videogames, e a Trial, que visa evitar que crimes de guerra fiquem impunes, realizaram um estudo conjunto sobre 20 jogos do gênero, de acordo com o caderno de games do site The Register Hardware.
Após a análise, o relatório final concluiu que os videogames deveriam respeitar as regras internacionais de guerra e apontou várias inconformidades nesses jogos, além de pedirem mudanças.

Pode até parecer que um campo de batalha é um lugar sem lei, ou pelo menos que a lei não "pegou". Mas as leis internacionais de guerra existem (a maioria, assinada em Genebra desde 1864) e em 2002 foi criado pela ONU o Tribunal Penal Internacional, para aumentar a eficácia dessas leis e julgar crimes e violações graves das leis que regulam guerras internacionais e civis travadas em todo o globo.
Basicamente, a lei internacional proíbe que seja causado sofrimento desnecessário aos soldados combatentes ou à população civil. Assim, é proibido, dentre outros exemplos, o uso de tortura, ataque a civis ou o uso de armas químicas.
A seguir um trecho do relatório que descreve os delitos observados no jogo Call of Duty 4 - Modern Warfare:
Vídeo amador mostra a missão do helicóptero do Call of Duty 4 - Modern Warfare
E houve até elogios:
O relatório, intitulado "Playing by the Rules: Applying International Humanitarian Law to Video and Computer Games", aponta que a maioria dos jogos continha “elementos que violam normas internacionais” e que entre as não conformidades reveladas, as mais frequentes desrespeitam “os princípios jurídicos de distinção e proporcionalidade”. Um exemplo citado seria a possibilidade de se jogar uma bomba, sobre uma cidade povoada, apenas para matar um atirador de elite.
As organizações responsáveis pelo estudo se preocupam principalmente com o fato de que esses jogos elevam os jogadores à categoria de protagonistas ativos na trama. Além disso, muitos desses títulos já estão sendo utilizados pelas forças armadas como instrumentos de formação.
Será que futuramente teremos um selo nos jogos de guerra com os dizeres: "compatível com a convenção de Genebra e o estatuto de Roma"?
Army of Two (Exército de dois). Indicação de atividades mercenárias.
Será que jogos assim serão muito chatos? Acho que não. Lembro bem de um simples e antigo jogo de arcade (acho que se chamava Bazooka) cujo o objetivo era atirar em tudo que cruzasse a tela exceto as ambulâncias da cruz vermelha (que era justamente quando o jogador perdia suas "vidas").
À medida que os jogos vão ficando mais inteligentes (mais estratégicos e menos de tiro indiscriminado) esse tipo de abordagem deve ficar mais em tela.
A missão perfeita será aquela que não haverá perda de vida nem entre os inimigos, que deverão ser capturados vivos para serem interrogados, julgados, trocados etc.
A perda de civis seria considerada uma falha estratégica que poderá ser um ganho para a propaganda das forças adversárias que assim conseguirão mais simpatizantes e voluntários. Dessa forma, o jogador poderá até ganhar a batalha, mas jamais conseguirá obter o coração e a mente dos vencidos. O que poderá ser considerado um estratagema deficiente.
Leia o documento na íntegra aqui (inglês).
Fonte: Geek, Mundo Estranho

Duas organizações suíças, a Pro Juventute, cujo objetivo é proteger as crianças da violência ilimitada em videogames, e a Trial, que visa evitar que crimes de guerra fiquem impunes, realizaram um estudo conjunto sobre 20 jogos do gênero, de acordo com o caderno de games do site The Register Hardware.
Após a análise, o relatório final concluiu que os videogames deveriam respeitar as regras internacionais de guerra e apontou várias inconformidades nesses jogos, além de pedirem mudanças.

Pode até parecer que um campo de batalha é um lugar sem lei, ou pelo menos que a lei não "pegou". Mas as leis internacionais de guerra existem (a maioria, assinada em Genebra desde 1864) e em 2002 foi criado pela ONU o Tribunal Penal Internacional, para aumentar a eficácia dessas leis e julgar crimes e violações graves das leis que regulam guerras internacionais e civis travadas em todo o globo.
Basicamente, a lei internacional proíbe que seja causado sofrimento desnecessário aos soldados combatentes ou à população civil. Assim, é proibido, dentre outros exemplos, o uso de tortura, ataque a civis ou o uso de armas químicas.
Essas leis precisam acompanhar as mudanças trazidas pelas novas armas e formas de combate mais avançadas. Por isso, é importante atualizar essas regras.
Peter Rowe. Jurista britânico da Universidade de Lancaster, no Reino Unido
A seguir um trecho do relatório que descreve os delitos observados no jogo Call of Duty 4 - Modern Warfare:
Em uma das cenas, o jogador é um atirador do helicóptero, cuja missão consiste em fornecer suporte para as unidades no solo abaixo, que estão lutando contra o inimigo. A fim de identificar o inimigo no campo de batalha, que é uma aldeia, os atiradores no helicóptero usam equipamentos de visão térmica.
Por causa do uso de equipamentos de visão térmica mas acima de tudo, devido à distância em que o helicóptero está voando, é difícil distinguir as forças inimigas das próprias tropas, que aparecem no jogo como figuras piscando. Isto torna extremamente difícil de cumprir o princípio da distinção entre civis e/ou mercadorias civil e os militares, o que é fundamental sob IHL (N.T.:International Humanitarian Law, Lei Humanitária Internacional).
Em uma situação real seria, portanto, questionável se tal operação em uma aldeia poderia ser realizada em conformidade com o IHL, uma vez que o ataque é indiscriminado já que emprega um método ou meios de combate cujos efeitos não podem ser limitados a determinados objetivos militares, ou pelo menos, é mais provável que venha "causar incidental perda de vidas civis, ferimentos a civis, danos a objetos civis, ou uma combinação dos mesmos, que seriam excessivos em relação à vantagem militar concreta e direta antecipado."
E houve até elogios:
É louvável, porém, que esta cena inclui a proibição de atacar um objeto civil em especial, ou seja, a igreja. No jogo, o desrespeito à instrução de não acertar a Igreja (que é dada pela voz de um comandante invisível ao fundo) resulta em fracasso da missão. Consideramos esta característica do jogo um passo positivo na direção que desejamos para os outros jogos: o jogador percebe que há limites na guerra e que ao ultrapassar estes limites resulta em um tipo de punição.
O relatório, intitulado "Playing by the Rules: Applying International Humanitarian Law to Video and Computer Games", aponta que a maioria dos jogos continha “elementos que violam normas internacionais” e que entre as não conformidades reveladas, as mais frequentes desrespeitam “os princípios jurídicos de distinção e proporcionalidade”. Um exemplo citado seria a possibilidade de se jogar uma bomba, sobre uma cidade povoada, apenas para matar um atirador de elite.
O objetivo do estudo é sensibilizar a opinião pública e os desenvolvedores de jogos, bem como as autoridades, educadores e os meios de comunicação sobre a prática de crimes em videogames, além de estabelecer um diálogo entre as produtoras de jogos eletrônicos sobre a necessidade da incorporação de regras essenciais da Declaração Universal dos Direitos Humanos em seus títulos
Trecho introdutório do estudo.
As organizações responsáveis pelo estudo se preocupam principalmente com o fato de que esses jogos elevam os jogadores à categoria de protagonistas ativos na trama. Além disso, muitos desses títulos já estão sendo utilizados pelas forças armadas como instrumentos de formação.
Considerando que a Declaração Universal dos Direitos Humanos está em constante melhoria e adaptação às novas realidades, esta evolução não deve ser ignorada na concepção de novos jogos.
Trecho das recomendações do relatório
Será que futuramente teremos um selo nos jogos de guerra com os dizeres: "compatível com a convenção de Genebra e o estatuto de Roma"?
Será que jogos assim serão muito chatos? Acho que não. Lembro bem de um simples e antigo jogo de arcade (acho que se chamava Bazooka) cujo o objetivo era atirar em tudo que cruzasse a tela exceto as ambulâncias da cruz vermelha (que era justamente quando o jogador perdia suas "vidas").
À medida que os jogos vão ficando mais inteligentes (mais estratégicos e menos de tiro indiscriminado) esse tipo de abordagem deve ficar mais em tela.
A missão perfeita será aquela que não haverá perda de vida nem entre os inimigos, que deverão ser capturados vivos para serem interrogados, julgados, trocados etc.
A perda de civis seria considerada uma falha estratégica que poderá ser um ganho para a propaganda das forças adversárias que assim conseguirão mais simpatizantes e voluntários. Dessa forma, o jogador poderá até ganhar a batalha, mas jamais conseguirá obter o coração e a mente dos vencidos. O que poderá ser considerado um estratagema deficiente.
Leia o documento na íntegra aqui (inglês).
Fonte: Geek, Mundo Estranho