Cientista anunciaram, no último dia 7, uma boa notícia: Foi descoberta uma molécula que apresenta propriedades antibióticas que se revelou, ...
Cientista anunciaram, no último dia 7, uma boa notícia: Foi descoberta uma molécula que apresenta propriedades antibióticas que se revelou, até agora, eficaz no combate às superbactérias.
Em artigo na revista Nature (A new antibiotic kills pathogens without detectable resistance - "Um novo antibiótico destrói patógenos sem resistência observável", em tradução livre), Losee Ling, da empresa NovoBiotic Pharmaceuticals (EUA), Tanja Schneider, da Universidade de Bona (Alemanha), Kim Lewis, da Universidade Northwestern (EUA) e o seus colegas introduzem a descoberta com um alerta:
Crise? Sim. Dezessete micro-organismos multirresistentes já matam, nos EUA, mais do que a AIDS (são 23.000 mortes anuais contra 15.000 causadas pelo HIV).
Basta lembrar nos remetermos a abril do ano passado, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) chamou a atenção do mundo para esse problema no seu primeiro relatório global sobre resistência antimicrobiana.
Graças às superbactérias, que são os microrganismos que deixam de responder a todos ou à maioria dos antibióticos disponíveis, estamos diante de um grande problema de saúde pública. Para se ter uma ideia de sua dimensão, uma recente pesquisa britânica sugere que, se nada for feito para alterar o quadro, as mortes provocadas pelas superbactérias poderão passar das atuais 700 000 para 10 milhões ao ano no mundo em 2050. É uma quantidade de mortes 18% maior que o total de óbitos causados pelo câncer atualmente, que é de 8,2 milhões ao ano.
Esse cenário "pós-antiobiótico" assim se estabeleceu sobretudo porque nas últimas décadas não foram encontrados novos antibióticos capazes de superar as formas resistentes para as quais evoluíram as superbactérias, além da prescrição exagerada desses remédios que tende a acelerar o processo de tornar as bactérias mais resistentes.
Mas isso pode começar a mudar. Um novo método de cultivo de bactérias levou um grupo internacional de cientistas a descobrir uma nova molécula que poderá vir a ser o princípio ativo de uma nova classe de medicamentos.
Batizada de teixobactina (em grego, “teixos” significa "parede"), essa molécula veio de uma bactéria do solo de um gramado do Maine após analisarem 10 mil estirpes bacterianas em quantidades suficientes para obter extratos ricos em compostos produzidos por elas.
Ao testarem a capacidade desses extratos de inibir o crescimento de bactérias da espécie Staphylococcus aureus – incluindo algumas resistentes a vários antibióticos atuais –, os cientistas viram que um deles possuía uma atividade promissora contra aquele micróbio patogênico, o qual é fonte de graves infecções hospitalares. Eles haviam achado a teixobactina, que fora produzida por uma bactéria a que deram o nome científico de Elephtheria terrae.
A equipe também mostrou que ratos infectados com o estafilococo ou com estreptococos causadores de pneumonias tinham a sua infecção reduzida sem aparentes efeitos tóxicos.
Mas a propriedade mais animadora da teixobactina é sua forma de agir que torna sua eficácia, potencialmente, mais duradoura. Os cientistas ainda não conseguiram gerar mutantes nem do estafilococo e nem do bacilo da tuberculose, resistentes à teixobactina.
Ocorre que os antibióticos costumam atuar em proteínas específicas das bactéria. Como as proteínas são produzidas seguindo a receita do genes das próprias bactérias, suas mutações podem torná-las resistentes rapidamente.
A teixobactina age de forma diferente. Ela destrói a parede celular das bactérias (não confundir com membrana celular) ao ligar-se a substâncias precursoras de dois lípidos (gorduras) da parede celular, cujo fabrico não é comandado pelos genes das bactérias, mas feito por elas a partir de substâncias orgânicas já disponíveis. A parede celular é uma estrutura rígida e flexível que envolve certos tipos de células, tais como bactérias, fungos ou plantas. Mas não envolve as células animais.
Gerard Wright, bioquímico da Universidade McMaster (Canadá), em um comentário na mesma edição da Nature, explica que o desenvolvimento de resistência contra a vancomicina – um antibiótico de última linha que também tem como alvo lípidos da parede celular – demorou quase quatro décadas antes do surgimento de resistência bacteriana à ela. No caso da teixobactina, talvez a ausência de resistência não seja definitiva, mas segundo este especialista, até poderá ser mais duradoura, devido a especificidades do micróbio que a produz.
O problema é que essas são as chamadas bactérias "gram-positivas". E até possuem algumas opções para seu combate. Mas a maioria das "superbactérias" que não possuem uma "kriptonita", e por isso mesmo são mais preocupantes para os especialista, são classificadas como "gram-negativas". Ainda de acordo com Wright, essa imunidade deve-se ao fato das "gram-negativas" possuírem uma segunda parede, exterior à primeira, que impede o acesso do novo antibiótico aos seus alvos. É como se elas fossem blindadas.
Embora haja essa limitação importante, o que é mais importante na descoberta da teixobactina é o método inédito empregado em sua descoberta. Isso poderá levar a novos achados já que ele possibilita pesquisar novas estirpes que antes não sobreviviam em ambientes laboratoriais. Ed Yong, da National Geographic, explica assim o processo para descobrir o novo antibiótico teixobactina:
Estima-se que 99% de todas as bactérias não se desenvolvem em placas de Petri no laboratório. Essa nova técnica possibilita que metade das bactéria coletadas sobrevivam em ambiente laboratorial.
Uma apresentação comercial do novo princípio ativo ainda deve demorar cerca de dez anos para chegar, se chegar, ao mercado. :P
Fonte: Folha, Estadão, Veja, Público, Info, Gizmodo, Nature, Voice Chronicle
[Via BBA]
Em artigo na revista Nature (A new antibiotic kills pathogens without detectable resistance - "Um novo antibiótico destrói patógenos sem resistência observável", em tradução livre), Losee Ling, da empresa NovoBiotic Pharmaceuticals (EUA), Tanja Schneider, da Universidade de Bona (Alemanha), Kim Lewis, da Universidade Northwestern (EUA) e o seus colegas introduzem a descoberta com um alerta:
A resistência aos antibióticos está a espalhar-se mais depressa do que a introdução de novos compostos na prática clínica, causando uma crise de saúde pública.
Crise? Sim. Dezessete micro-organismos multirresistentes já matam, nos EUA, mais do que a AIDS (são 23.000 mortes anuais contra 15.000 causadas pelo HIV).
Basta lembrar nos remetermos a abril do ano passado, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) chamou a atenção do mundo para esse problema no seu primeiro relatório global sobre resistência antimicrobiana.
O mundo está a caminhar para uma era pós-antibióticos, em que as infecções comuns e os pequenos ferimentos, tratáveis há décadas, podem voltar a matar.
Keiji Fukuda, responsável da OMS na época.
Graças às superbactérias, que são os microrganismos que deixam de responder a todos ou à maioria dos antibióticos disponíveis, estamos diante de um grande problema de saúde pública. Para se ter uma ideia de sua dimensão, uma recente pesquisa britânica sugere que, se nada for feito para alterar o quadro, as mortes provocadas pelas superbactérias poderão passar das atuais 700 000 para 10 milhões ao ano no mundo em 2050. É uma quantidade de mortes 18% maior que o total de óbitos causados pelo câncer atualmente, que é de 8,2 milhões ao ano.
Esse cenário "pós-antiobiótico" assim se estabeleceu sobretudo porque nas últimas décadas não foram encontrados novos antibióticos capazes de superar as formas resistentes para as quais evoluíram as superbactérias, além da prescrição exagerada desses remédios que tende a acelerar o processo de tornar as bactérias mais resistentes.
Mas isso pode começar a mudar. Um novo método de cultivo de bactérias levou um grupo internacional de cientistas a descobrir uma nova molécula que poderá vir a ser o princípio ativo de uma nova classe de medicamentos.
Batizada de teixobactina (em grego, “teixos” significa "parede"), essa molécula veio de uma bactéria do solo de um gramado do Maine após analisarem 10 mil estirpes bacterianas em quantidades suficientes para obter extratos ricos em compostos produzidos por elas.
Ao testarem a capacidade desses extratos de inibir o crescimento de bactérias da espécie Staphylococcus aureus – incluindo algumas resistentes a vários antibióticos atuais –, os cientistas viram que um deles possuía uma atividade promissora contra aquele micróbio patogênico, o qual é fonte de graves infecções hospitalares. Eles haviam achado a teixobactina, que fora produzida por uma bactéria a que deram o nome científico de Elephtheria terrae.
A equipe também mostrou que ratos infectados com o estafilococo ou com estreptococos causadores de pneumonias tinham a sua infecção reduzida sem aparentes efeitos tóxicos.
Mas a propriedade mais animadora da teixobactina é sua forma de agir que torna sua eficácia, potencialmente, mais duradoura. Os cientistas ainda não conseguiram gerar mutantes nem do estafilococo e nem do bacilo da tuberculose, resistentes à teixobactina.
Quando nós não vimos nenhuma resistência [ao composto], minha primeira reação foi que nós tínhamos descoberto lixo que seria altamente tóxico.
Kim Lewis. Diretor do Northeastern’s Antimicrobial Discovery Center
Ocorre que os antibióticos costumam atuar em proteínas específicas das bactéria. Como as proteínas são produzidas seguindo a receita do genes das próprias bactérias, suas mutações podem torná-las resistentes rapidamente.
A teixobactina age de forma diferente. Ela destrói a parede celular das bactérias (não confundir com membrana celular) ao ligar-se a substâncias precursoras de dois lípidos (gorduras) da parede celular, cujo fabrico não é comandado pelos genes das bactérias, mas feito por elas a partir de substâncias orgânicas já disponíveis. A parede celular é uma estrutura rígida e flexível que envolve certos tipos de células, tais como bactérias, fungos ou plantas. Mas não envolve as células animais.
Gerard Wright, bioquímico da Universidade McMaster (Canadá), em um comentário na mesma edição da Nature, explica que o desenvolvimento de resistência contra a vancomicina – um antibiótico de última linha que também tem como alvo lípidos da parede celular – demorou quase quatro décadas antes do surgimento de resistência bacteriana à ela. No caso da teixobactina, talvez a ausência de resistência não seja definitiva, mas segundo este especialista, até poderá ser mais duradoura, devido a especificidades do micróbio que a produz.
Mas nem tudo é perfeito
O problema é que essas são as chamadas bactérias "gram-positivas". E até possuem algumas opções para seu combate. Mas a maioria das "superbactérias" que não possuem uma "kriptonita", e por isso mesmo são mais preocupantes para os especialista, são classificadas como "gram-negativas". Ainda de acordo com Wright, essa imunidade deve-se ao fato das "gram-negativas" possuírem uma segunda parede, exterior à primeira, que impede o acesso do novo antibiótico aos seus alvos. É como se elas fossem blindadas.
Embora haja essa limitação importante, o que é mais importante na descoberta da teixobactina é o método inédito empregado em sua descoberta. Isso poderá levar a novos achados já que ele possibilita pesquisar novas estirpes que antes não sobreviviam em ambientes laboratoriais. Ed Yong, da National Geographic, explica assim o processo para descobrir o novo antibiótico teixobactina:
[O iChip é] uma placa simples com vários buracos. A equipe coleta um pouco de terra, sacode-a em água para liberar quaisquer micróbios, dilui fortemente a amostra, mistura-a com ágar líquido, e derrama o ágar no iChip.
A diluição garante que cada furo, agora fechado por um disco de ágar sólido, contenha apenas uma célula bacteriana. Então os cientistas cobriram os discos em membranas permeáveis, e mergulharam toda a placa em um recipiente com o solo original. Os micróbios ficam restritos ao ágar, mas ainda podem absorver do seu ambiente natural os nutrientes, fatores de crescimento e tudo mais de que eles precisam.
Northeastern University |
Estima-se que 99% de todas as bactérias não se desenvolvem em placas de Petri no laboratório. Essa nova técnica possibilita que metade das bactéria coletadas sobrevivam em ambiente laboratorial.
Uma apresentação comercial do novo princípio ativo ainda deve demorar cerca de dez anos para chegar, se chegar, ao mercado. :P
Fonte: Folha, Estadão, Veja, Público, Info, Gizmodo, Nature, Voice Chronicle
[Via BBA]