Tudo a ver com as manifestações de 2013: "Uma cidade desenvolvida não é aquela onde até os pobres usam carros, mas onde até os ricos us...
Tudo a ver com as manifestações de 2013: "Uma cidade desenvolvida não é aquela onde até os pobres usam carros, mas onde até os ricos usam o transporte público", diz Enrique Peñalosa. Nesta conversa animada, o ex-prefeito de Bogotá compartilha algumas das táticas que ele usou para mudar a dinâmica do transporte na capital da Colômbia, e sugere caminhos para pensar sobre a construção das cidades inteligentes do futuro.
A mobilidade nas cidades em desenvolvimento é um desafio muito peculiar, pois, diferentemente da saúde, educação ou moradia, tende a piorar, à medida que as sociedades se tornam mais ricas.
Claramente, um modelo insustentável. A mobilidade, como muitos outros problemas de países em desenvolvimento, mais do que uma questão de dinheiro ou tecnologia, é uma questão de igualdade, justiça. A grande desigualdade nos países em desenvolvimento torna difícil de enxergar, por exemplo, que em termos de transporte, uma cidade evoluída não é aquela onde até os pobres usam carros, mas, na verdade, aquela onde até os ricos usam o transporte público. Ou bicicletas. Por exemplo, em Amsterdã, mais de 30% da população usa bicicletas, apesar do fato de os holandeses terem renda per capita maior que os Estados Unidos. Há um conflito nas cidades do mundo em desenvolvimento por dinheiro, por investimentos do governo. Se mais dinheiro é investido em rodovias, claro que haverá menos dinheiro para moradia, para escolas, para hospitais, e também há um conflito por espaço. Há um conflito por espaço entre aqueles que têm carros e aqueles que não têm. A maioria de nós acredita hoje que a propriedade privada e a economia de mercado são a melhor maneira para administrar a maioria dos recursos das sociedades. No entanto, há um problema nisto, já que a economia de mercado precisa de desigualdade de renda para poder funcionar. Algumas pessoas têm que ganhar mais dinheiro, e outras menos. Algumas empresas prosperam. Outras falem. Então, que tipo de igualdade podemos esperar hoje com uma economia de mercado?
Eu proporia dois tipos de igualdade, em que ambos têm muito a ver com as cidades. O primeiro é igualdade de qualidade de vida, especialmente para as crianças, em que todas as crianças devem ter, além, obviamente, de saúde e educação, acesso a espaços verdes, instalações esportivas, a piscinas de natação, a aulas de música. E o segundo tipo de igualdade é aquela que podemos chamar "igualdade democrática." O primeiro artigo de toda Constituição declara que todos os cidadãos são iguais perante a lei. Isto não é poesia. É um princípio muito poderoso. Por exemplo, se isto é verdade, um ônibus com 80 passageiros tem direito a 80 vezes mais espaço nas rodovias do que um carro com um passageiro.
Nós estamos tão acostumados à desigualdade que, às vezes, ela está debaixo de nosso nariz e nós não a vemos. Há menos de 100 anos, mulheres não podiam votar, e isto parecia normal, da mesma maneira que parece normal hoje ver um ônibus em um engarrafamento. De fato, quando eu me tornei prefeito, aplicando o princípio democrático de que o bem público prevalece sobre o interesse privado, de que um ônibus com 100 pessoas tem direito a 100 vezes mais espaço rodoviário do que um carro, implementamos um sistema de transporte coletivo baseado em ônibus em corredores exclusivos. Nós o chamamos TransMilênio, a fim de tornar os ônibus mais atraentes. É também um símbolo democrático muito bonito, porque, enquanto os ônibus passam, carros caros ficam presos no trânsito, o que é claramente quase uma imagem da democracia funcionando. De fato, não é apenas uma questão de equidade. Não é necessário ter doutorado. Um grupo de crianças de 12 anos de idade perceberia em 20 minutos que o meio mais eficiente de utilizar o escaço espaço rodoviário é com corredores exclusivos para ônibus. De fato, ônibus não são atraentes, mas são os únicos meios possíveis para proporcionar transporte coletivo a todas as áreas das cidades que crescem e se desenvolvem rapidamente. Eles também têm grande capacidade. Por exemplo, esse sistema em Cantão está levando mais passageiros a seus destinos do que todas as linhas de metrô na China, com exceção de uma linha em Pequim, por uma fração do custo.
Lutamos não apenas por espaço para os ônibus, mas lutamos por espaço para as pessoas, e isto é ainda mais difícil. As cidades são habitats humanos, e nós humanos somos pedestres. Assim como o peixe precisa nadar, ou os pássaros precisam voar, ou o veado precisa correr, nós precisamos caminhar. Há realmente um conflito enorme, quando falamos de cidades de países em desenvolvimento, entre pedestres e carros. Aqui, o que vocês veem é uma imagem que mostra uma democracia insuficiente. O que isto mostra é que as pessoas que andam a pé são cidadãos de terceira classe, enquanto os que vão de carro são cidadãos de primeira classe. Em termos de infraestrutura de transporte, o que realmente faz a diferença entre cidades avançadas e atrasadas não são rodovias e metrôs mas calçadas de qualidade. Aqui eles fizeram um viaduto, provavelmente bastante inútil, e se esqueceram de fazer uma calçada. Isto é predominante em todo o mundo. Nem mesmo crianças indo para a escola são mais importantes do que os carros.
Na minha cidade, Bogotá, travamos uma batalha muito difícil para tomar espaço dos carros, que estacionavam em calçadas por décadas, a fim de abrir espaço para as pessoas, o que refletiria dignidade aos seres humanos, e a fim de criar espaço para ciclovias. Em primeiro lugar, eu tinha cabelo preto antes disso. (Risos) E fui quase cassado durante o processo. É uma batalha muito difícil. No entanto, foi possível, finalmente, depois de batalhas muito difíceis, fazer uma cidade que refletiria algum respeito pela dignidade humana, que mostraria que aqueles que andam a pé são tão importantes quanto aqueles que têm carros. Realmente, uma questão ideológica e política muito importante em qualquer lugar é como distribuir esse recurso mais valioso de uma cidade, que é o espaço rodoviário. Uma cidade poderia encontrar petróleo ou diamantes sob o solo e isto não seria tão valioso quanto o espaço rodoviário. Como distribuí-lo entre pedestres, bicicletas, transporte público e carros? Não é uma questão de tecnologia e nós devemos lembrar que, em nenhuma Constituição, o estacionamento é um direito constitucional, quando fizermos essa distribuição.
Nós também construímos, e isso foi há 15 anos, antes de existirem ciclovias em Nova Iorque, em Paris, ou em Londres, foi uma batalha muito difícil também, mais de 350 quilômetros de ciclovias. Eu não acho que ciclovias sejam características de uma arquitetura bonitinha. Elas são um direito, assim como as calçadas, a não ser que acreditemos que apenas aqueles com acesso a um veículo motorizado tenham direito à mobilidade segura, sem o risco de serem mortos. E assim como as faixas para ônibus as ciclovias também são um poderoso símbolo de democracia, porque demonstram que um cidadão em uma bicicleta de 30 dólares é tão importante quanto um cidadão em um carro de 30 mil dólares.
E nós estamos vivendo um momento único na história. Nos próximos 50 anos, mais da metade das cidades que existirão no ano 2060 estarão construídas. Em muitas cidades de países em desenvolvimento, mais de 80% e 90% das cidades que irão existir em 2060 serão construídas nas próximas quatro ou cinco décadas.
Mas isto não é uma questão apenas das cidades de países em desenvolvimento. Nos Estados Unidos, por exemplo, mais de 70 milhões de novas casas devem ser construídas nos próximos 40 ou 50 anos. Isto é mais que todas as casas que hoje existem na Grã-Bretanha, França e Canadá juntos. E eu acredito que nossas cidades hoje têm falhas graves, e que cidades diferentes e melhores poderiam ser construídas.
O que há de errado com nossas cidades hoje? Bem, por exemplo, se dizemos a qualquer criança de três anos de idade, que mal sabe falar, em qualquer cidade do mundo hoje: "Cuidado, um carro!", a criança vai pular assustada, e com uma boa razão, porque são mais de 10.000 crianças que são mortas por carros a cada ano no mundo. Nós temos cidades há 8.000 anos, e crianças podiam sair de casa e brincar. De fato, só bem recentemente, antes de 1900, não havia carros. Os carros estão por aí realmente há menos de 100 anos. Eles mudaram as cidades completamente. Em 1900, por exemplo, ninguém era morto por carros nos Estados Unidos. Apenas 20 anos depois, entre 1920 e 1930, quase 200.000 pessoas foram mortas por carros nos Estados Unidos. Só em 1925, quase 7.000 crianças foram mortas por carros nos Estados Unidos. Então, nós poderíamos construir cidades diferentes, cidades que dariam mais prioridade aos seres humanos do que aos carros, que dariam mais espaço público aos seres humanos do que aos carros, cidades que demonstrariam grande respeito por aqueles cidadãos mais vulneráveis, como crianças e idosos.
Eu vou propor a vocês alguns ingredientes os quais penso que tornariam as cidades muito melhores, e seria muito simples implementá-los nas novas cidades que fossem recém criadas. Centenas de quilômetros de corredores verdes, cruzando as cidades em todas as direções. As crianças sairiam de casa para espaços seguros. Elas poderiam percorrer dezenas de quilômetros em segurança, sem qualquer risco, por maravilhosos corredores verdes, várias rodovias para bicicletas, e eu convidaria você a imaginar o seguinte: uma cidade onde rua sim rua não fosse apenas para pedestres e bicicletas. Nas novas cidades que serão construídas, isto não seria especialmente difícil. Quando eu fui prefeito em Bogotá, em apenas três anos, nós fomos capazes de criar 70 quilômetros, em uma das mais densas cidades do mundo, dessas ciclovias. E isto mudou a maneira como as pessoas vivem, locomovem-se, aproveitam a cidade. Nesta imagem, vocês veem que, em um dos bairros mais pobres, nós temos uma rua luxuosa para pedestres e bicicletas, e os carros ainda na terra. Claro que eu adoraria pavimentar essa rua para os carros. Mas o que fazemos primeiro? 99% dos moradores nesses bairros não têm carro. Mas veja, quando uma cidade está sendo criada, é muito fácil incorporar esse tipo de infraestrutura. Então, a cidade cresce em torno dela. E claro que isto é só uma visão de algo que pode ser muito melhor, se nós o criarmos, e muda a maneira de viver.
E o segundo ingrediente que resolveria a questão da mobilidade, esse desafio tão difícil nos países em desenvolvimento, de uma maneira muito barata e simples, seria ter centenas de quilômetros de ruas somente para ônibus, ônibus, bicicletas e pedestres. Esta seria, novamente, uma solução muito barata, se implementada desde o começo, baixo custo, trânsito agradável com luz solar natural.
Mas infelizmente, a realidade não é tão boa quanto meus sonhos. Por causa da propriedade privada das terras e dos altos preços das terras, todas as cidades de países em desenvolvimento têm um grande problema de favelas. No meu país, a Colômbia, quase metade das casas das cidades, eram inicialmente construções ilegais. E, claro, é muito difícil ter transporte coletivo ou usar bicicletas nesses ambientes. Mas mesmo as construções legais estão também localizadas nos lugares errados, muito longe do centro das cidades, onde é impossível oferecer transporte público de baixo custo e alta frequência Como latino-americano, e a América Latina foi a região que se organizou mais recentemente no mundo, eu recomendaria, respeitosamente, apaixonadamente, aos países que ainda estão vão se urbanizar -- a América Latina passou de 40% de urbanização, em 1950, para 80% de urbanização, em 2010, -- Eu recomendaria aos países asiáticos e africanos, que ainda estão para se urbanizar, como a Índia, que tem apenas 33% de urbanização neste momento, que os governos adquirissem toda a terra ao redor da cidade. Desta forma, suas cidades vão poder crescer nos lugares certos, com os espaços certos, com os parques, com as áreas verdes, com vias exclusivas para ônibus.
As cidades que nós construiremos nos próximos 50 anos determinarão a qualidade de vida e até a felicidade de bilhões de pessoas no futuro. Que oportunidade fantástica para os líderes e muitos jovens líderes que virão, especialmente nos países em desenvolvimento. Eles podem criar uma vida muito mais feliz para bilhões de pessoas no futuro. Eu tenho certeza, eu sou otimista, de que eles vão fazer cidades melhores que os nossos sonhos mais ambiciosos.
(Aplausos)
Fonte: TED
[Via BBA]
A mobilidade nas cidades em desenvolvimento é um desafio muito peculiar, pois, diferentemente da saúde, educação ou moradia, tende a piorar, à medida que as sociedades se tornam mais ricas.
Claramente, um modelo insustentável. A mobilidade, como muitos outros problemas de países em desenvolvimento, mais do que uma questão de dinheiro ou tecnologia, é uma questão de igualdade, justiça. A grande desigualdade nos países em desenvolvimento torna difícil de enxergar, por exemplo, que em termos de transporte, uma cidade evoluída não é aquela onde até os pobres usam carros, mas, na verdade, aquela onde até os ricos usam o transporte público. Ou bicicletas. Por exemplo, em Amsterdã, mais de 30% da população usa bicicletas, apesar do fato de os holandeses terem renda per capita maior que os Estados Unidos. Há um conflito nas cidades do mundo em desenvolvimento por dinheiro, por investimentos do governo. Se mais dinheiro é investido em rodovias, claro que haverá menos dinheiro para moradia, para escolas, para hospitais, e também há um conflito por espaço. Há um conflito por espaço entre aqueles que têm carros e aqueles que não têm. A maioria de nós acredita hoje que a propriedade privada e a economia de mercado são a melhor maneira para administrar a maioria dos recursos das sociedades. No entanto, há um problema nisto, já que a economia de mercado precisa de desigualdade de renda para poder funcionar. Algumas pessoas têm que ganhar mais dinheiro, e outras menos. Algumas empresas prosperam. Outras falem. Então, que tipo de igualdade podemos esperar hoje com uma economia de mercado?
Eu proporia dois tipos de igualdade, em que ambos têm muito a ver com as cidades. O primeiro é igualdade de qualidade de vida, especialmente para as crianças, em que todas as crianças devem ter, além, obviamente, de saúde e educação, acesso a espaços verdes, instalações esportivas, a piscinas de natação, a aulas de música. E o segundo tipo de igualdade é aquela que podemos chamar "igualdade democrática." O primeiro artigo de toda Constituição declara que todos os cidadãos são iguais perante a lei. Isto não é poesia. É um princípio muito poderoso. Por exemplo, se isto é verdade, um ônibus com 80 passageiros tem direito a 80 vezes mais espaço nas rodovias do que um carro com um passageiro.
Nós estamos tão acostumados à desigualdade que, às vezes, ela está debaixo de nosso nariz e nós não a vemos. Há menos de 100 anos, mulheres não podiam votar, e isto parecia normal, da mesma maneira que parece normal hoje ver um ônibus em um engarrafamento. De fato, quando eu me tornei prefeito, aplicando o princípio democrático de que o bem público prevalece sobre o interesse privado, de que um ônibus com 100 pessoas tem direito a 100 vezes mais espaço rodoviário do que um carro, implementamos um sistema de transporte coletivo baseado em ônibus em corredores exclusivos. Nós o chamamos TransMilênio, a fim de tornar os ônibus mais atraentes. É também um símbolo democrático muito bonito, porque, enquanto os ônibus passam, carros caros ficam presos no trânsito, o que é claramente quase uma imagem da democracia funcionando. De fato, não é apenas uma questão de equidade. Não é necessário ter doutorado. Um grupo de crianças de 12 anos de idade perceberia em 20 minutos que o meio mais eficiente de utilizar o escaço espaço rodoviário é com corredores exclusivos para ônibus. De fato, ônibus não são atraentes, mas são os únicos meios possíveis para proporcionar transporte coletivo a todas as áreas das cidades que crescem e se desenvolvem rapidamente. Eles também têm grande capacidade. Por exemplo, esse sistema em Cantão está levando mais passageiros a seus destinos do que todas as linhas de metrô na China, com exceção de uma linha em Pequim, por uma fração do custo.
Lutamos não apenas por espaço para os ônibus, mas lutamos por espaço para as pessoas, e isto é ainda mais difícil. As cidades são habitats humanos, e nós humanos somos pedestres. Assim como o peixe precisa nadar, ou os pássaros precisam voar, ou o veado precisa correr, nós precisamos caminhar. Há realmente um conflito enorme, quando falamos de cidades de países em desenvolvimento, entre pedestres e carros. Aqui, o que vocês veem é uma imagem que mostra uma democracia insuficiente. O que isto mostra é que as pessoas que andam a pé são cidadãos de terceira classe, enquanto os que vão de carro são cidadãos de primeira classe. Em termos de infraestrutura de transporte, o que realmente faz a diferença entre cidades avançadas e atrasadas não são rodovias e metrôs mas calçadas de qualidade. Aqui eles fizeram um viaduto, provavelmente bastante inútil, e se esqueceram de fazer uma calçada. Isto é predominante em todo o mundo. Nem mesmo crianças indo para a escola são mais importantes do que os carros.
Na minha cidade, Bogotá, travamos uma batalha muito difícil para tomar espaço dos carros, que estacionavam em calçadas por décadas, a fim de abrir espaço para as pessoas, o que refletiria dignidade aos seres humanos, e a fim de criar espaço para ciclovias. Em primeiro lugar, eu tinha cabelo preto antes disso. (Risos) E fui quase cassado durante o processo. É uma batalha muito difícil. No entanto, foi possível, finalmente, depois de batalhas muito difíceis, fazer uma cidade que refletiria algum respeito pela dignidade humana, que mostraria que aqueles que andam a pé são tão importantes quanto aqueles que têm carros. Realmente, uma questão ideológica e política muito importante em qualquer lugar é como distribuir esse recurso mais valioso de uma cidade, que é o espaço rodoviário. Uma cidade poderia encontrar petróleo ou diamantes sob o solo e isto não seria tão valioso quanto o espaço rodoviário. Como distribuí-lo entre pedestres, bicicletas, transporte público e carros? Não é uma questão de tecnologia e nós devemos lembrar que, em nenhuma Constituição, o estacionamento é um direito constitucional, quando fizermos essa distribuição.
Nós também construímos, e isso foi há 15 anos, antes de existirem ciclovias em Nova Iorque, em Paris, ou em Londres, foi uma batalha muito difícil também, mais de 350 quilômetros de ciclovias. Eu não acho que ciclovias sejam características de uma arquitetura bonitinha. Elas são um direito, assim como as calçadas, a não ser que acreditemos que apenas aqueles com acesso a um veículo motorizado tenham direito à mobilidade segura, sem o risco de serem mortos. E assim como as faixas para ônibus as ciclovias também são um poderoso símbolo de democracia, porque demonstram que um cidadão em uma bicicleta de 30 dólares é tão importante quanto um cidadão em um carro de 30 mil dólares.
E nós estamos vivendo um momento único na história. Nos próximos 50 anos, mais da metade das cidades que existirão no ano 2060 estarão construídas. Em muitas cidades de países em desenvolvimento, mais de 80% e 90% das cidades que irão existir em 2060 serão construídas nas próximas quatro ou cinco décadas.
Mas isto não é uma questão apenas das cidades de países em desenvolvimento. Nos Estados Unidos, por exemplo, mais de 70 milhões de novas casas devem ser construídas nos próximos 40 ou 50 anos. Isto é mais que todas as casas que hoje existem na Grã-Bretanha, França e Canadá juntos. E eu acredito que nossas cidades hoje têm falhas graves, e que cidades diferentes e melhores poderiam ser construídas.
O que há de errado com nossas cidades hoje? Bem, por exemplo, se dizemos a qualquer criança de três anos de idade, que mal sabe falar, em qualquer cidade do mundo hoje: "Cuidado, um carro!", a criança vai pular assustada, e com uma boa razão, porque são mais de 10.000 crianças que são mortas por carros a cada ano no mundo. Nós temos cidades há 8.000 anos, e crianças podiam sair de casa e brincar. De fato, só bem recentemente, antes de 1900, não havia carros. Os carros estão por aí realmente há menos de 100 anos. Eles mudaram as cidades completamente. Em 1900, por exemplo, ninguém era morto por carros nos Estados Unidos. Apenas 20 anos depois, entre 1920 e 1930, quase 200.000 pessoas foram mortas por carros nos Estados Unidos. Só em 1925, quase 7.000 crianças foram mortas por carros nos Estados Unidos. Então, nós poderíamos construir cidades diferentes, cidades que dariam mais prioridade aos seres humanos do que aos carros, que dariam mais espaço público aos seres humanos do que aos carros, cidades que demonstrariam grande respeito por aqueles cidadãos mais vulneráveis, como crianças e idosos.
Eu vou propor a vocês alguns ingredientes os quais penso que tornariam as cidades muito melhores, e seria muito simples implementá-los nas novas cidades que fossem recém criadas. Centenas de quilômetros de corredores verdes, cruzando as cidades em todas as direções. As crianças sairiam de casa para espaços seguros. Elas poderiam percorrer dezenas de quilômetros em segurança, sem qualquer risco, por maravilhosos corredores verdes, várias rodovias para bicicletas, e eu convidaria você a imaginar o seguinte: uma cidade onde rua sim rua não fosse apenas para pedestres e bicicletas. Nas novas cidades que serão construídas, isto não seria especialmente difícil. Quando eu fui prefeito em Bogotá, em apenas três anos, nós fomos capazes de criar 70 quilômetros, em uma das mais densas cidades do mundo, dessas ciclovias. E isto mudou a maneira como as pessoas vivem, locomovem-se, aproveitam a cidade. Nesta imagem, vocês veem que, em um dos bairros mais pobres, nós temos uma rua luxuosa para pedestres e bicicletas, e os carros ainda na terra. Claro que eu adoraria pavimentar essa rua para os carros. Mas o que fazemos primeiro? 99% dos moradores nesses bairros não têm carro. Mas veja, quando uma cidade está sendo criada, é muito fácil incorporar esse tipo de infraestrutura. Então, a cidade cresce em torno dela. E claro que isto é só uma visão de algo que pode ser muito melhor, se nós o criarmos, e muda a maneira de viver.
E o segundo ingrediente que resolveria a questão da mobilidade, esse desafio tão difícil nos países em desenvolvimento, de uma maneira muito barata e simples, seria ter centenas de quilômetros de ruas somente para ônibus, ônibus, bicicletas e pedestres. Esta seria, novamente, uma solução muito barata, se implementada desde o começo, baixo custo, trânsito agradável com luz solar natural.
Mas infelizmente, a realidade não é tão boa quanto meus sonhos. Por causa da propriedade privada das terras e dos altos preços das terras, todas as cidades de países em desenvolvimento têm um grande problema de favelas. No meu país, a Colômbia, quase metade das casas das cidades, eram inicialmente construções ilegais. E, claro, é muito difícil ter transporte coletivo ou usar bicicletas nesses ambientes. Mas mesmo as construções legais estão também localizadas nos lugares errados, muito longe do centro das cidades, onde é impossível oferecer transporte público de baixo custo e alta frequência Como latino-americano, e a América Latina foi a região que se organizou mais recentemente no mundo, eu recomendaria, respeitosamente, apaixonadamente, aos países que ainda estão vão se urbanizar -- a América Latina passou de 40% de urbanização, em 1950, para 80% de urbanização, em 2010, -- Eu recomendaria aos países asiáticos e africanos, que ainda estão para se urbanizar, como a Índia, que tem apenas 33% de urbanização neste momento, que os governos adquirissem toda a terra ao redor da cidade. Desta forma, suas cidades vão poder crescer nos lugares certos, com os espaços certos, com os parques, com as áreas verdes, com vias exclusivas para ônibus.
As cidades que nós construiremos nos próximos 50 anos determinarão a qualidade de vida e até a felicidade de bilhões de pessoas no futuro. Que oportunidade fantástica para os líderes e muitos jovens líderes que virão, especialmente nos países em desenvolvimento. Eles podem criar uma vida muito mais feliz para bilhões de pessoas no futuro. Eu tenho certeza, eu sou otimista, de que eles vão fazer cidades melhores que os nossos sonhos mais ambiciosos.
(Aplausos)
Fonte: TED
[Via BBA]