Homenageando o educador Rubem Alves, falecido no último dia 19, que já nos alertava que os professores deveriam ser professores de espanto ,...
Homenageando o educador Rubem Alves, falecido no último dia 19, que já nos alertava que os professores deveriam ser professores de espanto, publicamos a palestra de outro metaprofessor, Christopher Emdin, no TED, que também quer professores inspirados e engajadores, aprendendo a magia de ensinar.
Neste exato momento, há uma ambiciosa professora que está trabalhando num artigo de 60 páginas, baseado em teorias antigas sobre educação, desenvolvidas por um professor de educação já morto, perguntando-se o que este trabalho em que ela está envolvida tem a ver com o que ela quer fazer de sua vida, que é ser educadora, mudar vidas e despertar a magia.
Neste exato momento, há uma professora ambiciosa, de uma universidade, que está assistindo à ladainha de um professor que fala sobre engajamento da forma mais "desengajante" possível. Neste exato momento, há uma professora de primeiro ano, em casa, que está repassando seu planejamento de aula, tentando encontrar sentido nos padrões, tentando entender como formar os alunos apropriadamente enquanto diz para si mesma, repetidas vezes: "Não sorria até novembro", porque foi assim que ela foi ensinada durante sua formação como professora. Neste exato momento, há um estudante que está encontrando um jeito de convencer sua mãe ou seu pai de que ele está muito, muito doente e não poderá ir à escola amanhã. Por outro lado, neste momento, há educadores incríveis que estão compartilhando informação, informação compartilhada de um jeito belo, fazendo com que os alunos sentem na beirada de seus assentos apenas esperando uma gota de suor escorrer do rosto dessa pessoa, para que possam absorver todo aquele conhecimento. Neste exato momento, há uma pessoa que tem a atenção de um público inteiro, uma pessoa que recita uma poderosa narrativa sobre um mundo que as pessoas que estão escutando nunca imaginaram ou viram antes, mas que, se fecharem bem os olhos, poderão ver esse mundo, porque o modo de contar a história é envolvente. Neste exato momento, há uma pessoa que pode dizer ao público para colocar as mãos para o alto e permanecer assim até que diga: "Abaixem-nas". Neste exato momento.
Assim, as pessoas dirão: "Bem, Chris, você descreve o cara que está passando por um treinamento horrível, mas você também está descrevendo esses poderosos educadores. Se você está pensando sobre o mundo da educação ou sobre educação urbana, em particular, esses caras provavelmente irão se cancelar, e então ficaremos bem".
A verdade é que as pessoas que eu descrevi como os bons professores, os bons construtores de narrativas, os bons contadores de histórias estão muito distantes das salas de aula. Aqueles que sabem as técnicas sobre como ensinar e despertam interesse no público não têm a menor ideia do que significa ter um certificado de professor. Eles talvez nem tenham formação
para serem capazes de ter alguma coisa a que chamar de educação. E para mim isso é triste. É triste porque as pessoas que eu descrevi estavam desinteressadas no processo de aprendizado, querem ser professor de fato, mas não têm nenhum modelo. Vou parafrasear Mark Twain. Mark Twain diz que a preparação adequada, ou o ensinar, é tão poderosa que pode transformar morais más em boas, pode tornar práticas ruins em práticas poderosas, pode mudar e transformar os homens em anjos.
Aqueles que eu descrevi anteriormente tiveram a preparação adequada para ensinar, não numa faculdade ou universidade, mas por estarem nos mesmos espaços daqueles que se comprometem. Adivinha quais são esses lugares? Barbearias, shows de rap e principalmente na igreja dos negros. E tenho formulado uma ideia chamada de pedagogia pentecostal. Quem daqui já esteve numa igreja de negros? Temos algumas mãos. Quando você vai a uma dessas igrejas, o pregador inicia e percebe que tem que despertar o interesse do público. Então, ele começa com um tipo de jogo de palavras, logo no início, na maioria das vezes, e então dá uma pausa, e diz: "Ai, meu Deus, eles não estão prestando muita atenção". Então ele diz: "Posso ter um amém?"
Público: Amém.
Chris Emdin: Então posso ter um amém?
Plateia: Amém.
E de repente, todos estão reacordados. O pregador bate no púlpito para receber atenção. Abaixa a voz a um volume muito, muito baixo, quando quer que as pessoas se conectem com ele, e essas coisas são as técnicas de que precisamos para os professores mais competentes. Então por que a formação de professores só fornece teorias e mais teorias e fala sobre as normas e sobre todas essas coisas que não têm nada a ver com as técnicas básicas, a magia de que você precisa para interessar o público, o estudante? Então, eu sugiro que reformulemos novamente a ideia de professor, para que possamos focar o conteúdo, e isso é bom, e assim possamos focar as teorias, e isso é bom, mas conteúdo e teorias, sem a magia de ensinar e aprender, não significam nada. As pessoas geralmente dizem: "Bem, mágica é só mágica". Existem professores que, apesar de todos os desafios,
aqueles que têm as técnicas entram nessas escolas e são capazes de interessar o público, e o coordenador aparece e diz: "Nossa, ele é bom. Gostaria que todos os meus professores fossem bons assim." E quando tenta-se descrever o que é isso, apenas se diz: "Ele tem essa magia." Mas estou aqui para dizer-lhes que mágica pode ser ensinada.
Mágica pode ser ensinada. Mágica pode ser ensinada. Agora, como ensinar isso? Você ensina permitindo que as pessoas vão a esses lugares onde a mágica está acontecendo. Se você quer ser um professor inspirador no contexto da educação urbana, você tem que deixar os confins da universidade e ir ao bairro. Você tem que ir lá e interagir na barbearia, você deve ir a uma igreja de negros, e você tem que ver esse pessoal, que tem o poder de engajar, e tomar notas do que eles fazem. Nas aulas de educação para professores na minha universidade, iniciei um projeto em que todo aluno que aparece se senta e assiste a shows de rap. Eles assistem ao modo como os rappers se movem e falam com as mãos. Estudam como eles andam orgulhosos pelo palco. Escutam suas metáforas e analogias, e começam a aprender essas pequenas coisas que, se praticadas o suficiente, tornam-se a chave para a mágica. Eles aprendem que se apenas olhar para um aluno e erguer a sobrancelha um pouquinho, não precisa dizer palavra alguma porque eles sabem que isso significa que você quer mais. E se pudéssemos transformar a formação de professores e pôr o foco em ensiná-los a criar essa mágica então... puf! Podemos fazer aulas mortas ganharem vida, podemos reacender imaginações e podemos mudar a educação. Obrigado. (Aplausos)
[Via BBA]
Neste exato momento, há uma ambiciosa professora que está trabalhando num artigo de 60 páginas, baseado em teorias antigas sobre educação, desenvolvidas por um professor de educação já morto, perguntando-se o que este trabalho em que ela está envolvida tem a ver com o que ela quer fazer de sua vida, que é ser educadora, mudar vidas e despertar a magia.
Neste exato momento, há uma professora ambiciosa, de uma universidade, que está assistindo à ladainha de um professor que fala sobre engajamento da forma mais "desengajante" possível. Neste exato momento, há uma professora de primeiro ano, em casa, que está repassando seu planejamento de aula, tentando encontrar sentido nos padrões, tentando entender como formar os alunos apropriadamente enquanto diz para si mesma, repetidas vezes: "Não sorria até novembro", porque foi assim que ela foi ensinada durante sua formação como professora. Neste exato momento, há um estudante que está encontrando um jeito de convencer sua mãe ou seu pai de que ele está muito, muito doente e não poderá ir à escola amanhã. Por outro lado, neste momento, há educadores incríveis que estão compartilhando informação, informação compartilhada de um jeito belo, fazendo com que os alunos sentem na beirada de seus assentos apenas esperando uma gota de suor escorrer do rosto dessa pessoa, para que possam absorver todo aquele conhecimento. Neste exato momento, há uma pessoa que tem a atenção de um público inteiro, uma pessoa que recita uma poderosa narrativa sobre um mundo que as pessoas que estão escutando nunca imaginaram ou viram antes, mas que, se fecharem bem os olhos, poderão ver esse mundo, porque o modo de contar a história é envolvente. Neste exato momento, há uma pessoa que pode dizer ao público para colocar as mãos para o alto e permanecer assim até que diga: "Abaixem-nas". Neste exato momento.
Assim, as pessoas dirão: "Bem, Chris, você descreve o cara que está passando por um treinamento horrível, mas você também está descrevendo esses poderosos educadores. Se você está pensando sobre o mundo da educação ou sobre educação urbana, em particular, esses caras provavelmente irão se cancelar, e então ficaremos bem".
A verdade é que as pessoas que eu descrevi como os bons professores, os bons construtores de narrativas, os bons contadores de histórias estão muito distantes das salas de aula. Aqueles que sabem as técnicas sobre como ensinar e despertam interesse no público não têm a menor ideia do que significa ter um certificado de professor. Eles talvez nem tenham formação
para serem capazes de ter alguma coisa a que chamar de educação. E para mim isso é triste. É triste porque as pessoas que eu descrevi estavam desinteressadas no processo de aprendizado, querem ser professor de fato, mas não têm nenhum modelo. Vou parafrasear Mark Twain. Mark Twain diz que a preparação adequada, ou o ensinar, é tão poderosa que pode transformar morais más em boas, pode tornar práticas ruins em práticas poderosas, pode mudar e transformar os homens em anjos.
Aqueles que eu descrevi anteriormente tiveram a preparação adequada para ensinar, não numa faculdade ou universidade, mas por estarem nos mesmos espaços daqueles que se comprometem. Adivinha quais são esses lugares? Barbearias, shows de rap e principalmente na igreja dos negros. E tenho formulado uma ideia chamada de pedagogia pentecostal. Quem daqui já esteve numa igreja de negros? Temos algumas mãos. Quando você vai a uma dessas igrejas, o pregador inicia e percebe que tem que despertar o interesse do público. Então, ele começa com um tipo de jogo de palavras, logo no início, na maioria das vezes, e então dá uma pausa, e diz: "Ai, meu Deus, eles não estão prestando muita atenção". Então ele diz: "Posso ter um amém?"
Público: Amém.
Chris Emdin: Então posso ter um amém?
Plateia: Amém.
E de repente, todos estão reacordados. O pregador bate no púlpito para receber atenção. Abaixa a voz a um volume muito, muito baixo, quando quer que as pessoas se conectem com ele, e essas coisas são as técnicas de que precisamos para os professores mais competentes. Então por que a formação de professores só fornece teorias e mais teorias e fala sobre as normas e sobre todas essas coisas que não têm nada a ver com as técnicas básicas, a magia de que você precisa para interessar o público, o estudante? Então, eu sugiro que reformulemos novamente a ideia de professor, para que possamos focar o conteúdo, e isso é bom, e assim possamos focar as teorias, e isso é bom, mas conteúdo e teorias, sem a magia de ensinar e aprender, não significam nada. As pessoas geralmente dizem: "Bem, mágica é só mágica". Existem professores que, apesar de todos os desafios,
aqueles que têm as técnicas entram nessas escolas e são capazes de interessar o público, e o coordenador aparece e diz: "Nossa, ele é bom. Gostaria que todos os meus professores fossem bons assim." E quando tenta-se descrever o que é isso, apenas se diz: "Ele tem essa magia." Mas estou aqui para dizer-lhes que mágica pode ser ensinada.
Mágica pode ser ensinada. Mágica pode ser ensinada. Agora, como ensinar isso? Você ensina permitindo que as pessoas vão a esses lugares onde a mágica está acontecendo. Se você quer ser um professor inspirador no contexto da educação urbana, você tem que deixar os confins da universidade e ir ao bairro. Você tem que ir lá e interagir na barbearia, você deve ir a uma igreja de negros, e você tem que ver esse pessoal, que tem o poder de engajar, e tomar notas do que eles fazem. Nas aulas de educação para professores na minha universidade, iniciei um projeto em que todo aluno que aparece se senta e assiste a shows de rap. Eles assistem ao modo como os rappers se movem e falam com as mãos. Estudam como eles andam orgulhosos pelo palco. Escutam suas metáforas e analogias, e começam a aprender essas pequenas coisas que, se praticadas o suficiente, tornam-se a chave para a mágica. Eles aprendem que se apenas olhar para um aluno e erguer a sobrancelha um pouquinho, não precisa dizer palavra alguma porque eles sabem que isso significa que você quer mais. E se pudéssemos transformar a formação de professores e pôr o foco em ensiná-los a criar essa mágica então... puf! Podemos fazer aulas mortas ganharem vida, podemos reacender imaginações e podemos mudar a educação. Obrigado. (Aplausos)
[Via BBA]