Aventuras de Pi foi um plágio de Max e os Felinos? Com a palavra o escritor Moacyr Scliar: Moacyr Jaime Scliar (Porto Alegre, 23 de março de...
Aventuras de Pi foi um plágio de Max e os Felinos? Com a palavra o escritor Moacyr Scliar:
Moacyr Jaime Scliar (Porto Alegre, 23 de março de 1937 — Porto Alegre, 27 de fevereiro de 2011) foi um escritor brasileiro. Formado em medicina, trabalhou como médico especialista em saúde pública e professor universitário. Sua prolífica obra consiste de contos, romances, ensaios e literatura infantojuvenil. Também ficou conhecido por suas crônicas nos principais jornais do país. Imortal da Academia de Letras e ganhador de três prêmios Jabutis de literatura, Moacyr Scliar mostrou sua visão sobre o possível caso de plágio no vídeo transcrito a seguir.
Tudo começou assim, para mim é uma coisa da qual eu me lembro assim como se tivesse acontecido ontem.
Eu estou na minha casa, toca o telefone e era do Globo, o jornal O Globo do Rio. Uma jornalista que me conhecia e disse:
Olha, estou te ligando porque um escritor canadense ganhou o prêmio Booker - que é um prêmio muito prestigioso. O prêmio para países de língua inglesa. Nesses países ele está logo abaixo do Nobel - e esse escritor ganhou o prêmio - tinha sido um ou dois dias antes - e hoje, disse ela, saiu no jornal inglês The Guardian um artigo dizendo que o livro é um plágio de um escritor brasileiro Moacyr Scliar. O quê que tu tem a dizer sobre isso?
E aí, a partir desse dia os telefones se sucediam, os telefones não paravam de tocar, porque aquilo se transformou em um escândalo mundial e eu nem sabia do que que se tratava.
Max e os Felinos são várias histórias. Mas a história principal é a de um imigrante, um jovem, que foge da Alemanha nazista em um navio e vem para o Brasil. Nesse navio que o comandante vai afundar para ganhar o seguro, tem também os animais de um circo, o navio de fato naufraga e o rapaz se salva em um bote. E quando ele está no meio do oceano, e ao redor dele tem jaulas de animais.
E dessas jaulas pula um jaguar para dentro do bote e aí é a história.
A história é basicamente isso. A relação desse rapaz com a fera. Com aquela criatura feroz, imprevisível, enigmática, que é o jaguar.
No livro dele o personagem sai da índia, não da Alemanha, e vem para o Canadá, e não para o Brasil. E não é um jaguar, é um tigre de Bengala. A ideia é a mesma.
Isso aí que provocou a controvérsia toda. Então basicamente o que as pessoas perguntavam... E perguntava muito. Pergutavam tanto que eu fui obrigado... Eu tive que ir para os Estados Unidos porque várias emissoras queriam me entrevistar.
E a pergunta é assim: O que é que eu iria fazer diante deste fato. Ou basicamente é se eu iria processá-lo alegando o plágio.
E na verdade eu até fui procurado por vários escritórios de advocacia. Mas eu na verdade não me sentia inclinado a fazer isso.
Primeiro porque isso aí representaria um trabalhão, tudo isso teria que ser feito na Inglaterra. Em segundo lugar, o que me irritava não era o fato dele ter usado a ideia, muitas vezes na história da literatura escritores usaram ideias de outro. Isso não chega a ser a rigor um plágio. Plágio é quando há uma cópia, no caso não era uma cópia.
Mas o que me irritou foi é exatamente a maneira que esse escritor fez isso. De maneira que eu atribuo a imaturidade emocional dele. Porque o que ele disse foi o seguinte: Ele não tinha lido. Que ele tinha lido uma resenha do livro, desfavorável, mas ele não sabia dizer quem tinha escrito a resenha do livro. Não se lembrava. Em uma declaração ele tinha dito que a resenha tinha sido escrita pelo escritor americano John Updike, aí o John Updike teve que dar uma declaração dizendo que não tinha feito essa resenha e que me conhecia, uma vez que eu tinha livros traduzidos nos Estados Unidos.
Isso é um detalhe importante, o acesso dele só foi possível porque esse livro tinha uma tradução em iglês chamada Max and the Cats.
Bom, basicamente ele dava a ideia seguinte: o que ele queria era aproveitar uma boa ideia estragada por um mau escritor brasileiro.
É uma coisa da qual ele veio a se arrepender e no próprio prefácio do livro ele fez um agradecimento a minha pessoa.
Max e os Felinos é um livro político. Na verdade é um livro escrito durante a ditadura. E na verdade Max diante do jaguar é um símbolo de como a gente se sentia diante da ditadura.
Ou seja nós estávamos diante de uma fera, de uma realidade feroz, que nós não entendíamos, que não queria ser entendida. E que a qualquer momento podia usar da violência conta a intelectualidade como de fato foi usada.
Fonte: Wikipedia
[Via BBA]
Moacyr Jaime Scliar (Porto Alegre, 23 de março de 1937 — Porto Alegre, 27 de fevereiro de 2011) foi um escritor brasileiro. Formado em medicina, trabalhou como médico especialista em saúde pública e professor universitário. Sua prolífica obra consiste de contos, romances, ensaios e literatura infantojuvenil. Também ficou conhecido por suas crônicas nos principais jornais do país. Imortal da Academia de Letras e ganhador de três prêmios Jabutis de literatura, Moacyr Scliar mostrou sua visão sobre o possível caso de plágio no vídeo transcrito a seguir.
Tudo começou assim, para mim é uma coisa da qual eu me lembro assim como se tivesse acontecido ontem.
Eu estou na minha casa, toca o telefone e era do Globo, o jornal O Globo do Rio. Uma jornalista que me conhecia e disse:
Olha, estou te ligando porque um escritor canadense ganhou o prêmio Booker - que é um prêmio muito prestigioso. O prêmio para países de língua inglesa. Nesses países ele está logo abaixo do Nobel - e esse escritor ganhou o prêmio - tinha sido um ou dois dias antes - e hoje, disse ela, saiu no jornal inglês The Guardian um artigo dizendo que o livro é um plágio de um escritor brasileiro Moacyr Scliar. O quê que tu tem a dizer sobre isso?
Eu disse: Nada. Eu nem sei do que é que tu está falando.Eu não tinha a menor ideia porque eu não tinha acompanhado o noticiário sobre o prêmio, aquilo foi uma surpresa para mim. Eu lembro que eu conversei com o Ivan [Ivan Machado. Editor-chefe da LPM] e a gente teve que fazer uma força para conseguir... O Ivan que conseguiu o livro deles lá.
E aí, a partir desse dia os telefones se sucediam, os telefones não paravam de tocar, porque aquilo se transformou em um escândalo mundial e eu nem sabia do que que se tratava.
Então o que eu descobri: Que um escritor canadense chamada Yann Martel tinha publicado o livro chamado The Life of Pi e que ele mesmo admitia que era baseado na história de Max e os Felinos.Qual é a história de Max e os Felinos?
Max e os Felinos são várias histórias. Mas a história principal é a de um imigrante, um jovem, que foge da Alemanha nazista em um navio e vem para o Brasil. Nesse navio que o comandante vai afundar para ganhar o seguro, tem também os animais de um circo, o navio de fato naufraga e o rapaz se salva em um bote. E quando ele está no meio do oceano, e ao redor dele tem jaulas de animais.
E dessas jaulas pula um jaguar para dentro do bote e aí é a história.
A história é basicamente isso. A relação desse rapaz com a fera. Com aquela criatura feroz, imprevisível, enigmática, que é o jaguar.
No livro dele o personagem sai da índia, não da Alemanha, e vem para o Canadá, e não para o Brasil. E não é um jaguar, é um tigre de Bengala. A ideia é a mesma.
Isso aí que provocou a controvérsia toda. Então basicamente o que as pessoas perguntavam... E perguntava muito. Pergutavam tanto que eu fui obrigado... Eu tive que ir para os Estados Unidos porque várias emissoras queriam me entrevistar.
E a pergunta é assim: O que é que eu iria fazer diante deste fato. Ou basicamente é se eu iria processá-lo alegando o plágio.
E na verdade eu até fui procurado por vários escritórios de advocacia. Mas eu na verdade não me sentia inclinado a fazer isso.
Primeiro porque isso aí representaria um trabalhão, tudo isso teria que ser feito na Inglaterra. Em segundo lugar, o que me irritava não era o fato dele ter usado a ideia, muitas vezes na história da literatura escritores usaram ideias de outro. Isso não chega a ser a rigor um plágio. Plágio é quando há uma cópia, no caso não era uma cópia.
Mas o que me irritou foi é exatamente a maneira que esse escritor fez isso. De maneira que eu atribuo a imaturidade emocional dele. Porque o que ele disse foi o seguinte: Ele não tinha lido. Que ele tinha lido uma resenha do livro, desfavorável, mas ele não sabia dizer quem tinha escrito a resenha do livro. Não se lembrava. Em uma declaração ele tinha dito que a resenha tinha sido escrita pelo escritor americano John Updike, aí o John Updike teve que dar uma declaração dizendo que não tinha feito essa resenha e que me conhecia, uma vez que eu tinha livros traduzidos nos Estados Unidos.
Isso é um detalhe importante, o acesso dele só foi possível porque esse livro tinha uma tradução em iglês chamada Max and the Cats.
Bom, basicamente ele dava a ideia seguinte: o que ele queria era aproveitar uma boa ideia estragada por um mau escritor brasileiro.
É uma coisa da qual ele veio a se arrepender e no próprio prefácio do livro ele fez um agradecimento a minha pessoa.
Max e os Felinos é um livro político. Na verdade é um livro escrito durante a ditadura. E na verdade Max diante do jaguar é um símbolo de como a gente se sentia diante da ditadura.
Ou seja nós estávamos diante de uma fera, de uma realidade feroz, que nós não entendíamos, que não queria ser entendida. E que a qualquer momento podia usar da violência conta a intelectualidade como de fato foi usada.
Fonte: Wikipedia
[Via BBA]