O renascimento da história

Em seu artigo Reflexões sobre o renascimento da História, o articulista do Observatório da Imprensa, Luciano Martins Costa, mostra como a gr...

Em seu artigo Reflexões sobre o renascimento da História, o articulista do Observatório da Imprensa, Luciano Martins Costa, mostra como a grande mídia festeja o que a agrada e esquece o que pode servir para embasar o que contraria os próprio interesses.

Os boxes e destaques são do Blog brasil Acadêmico:

Dois textos publicados neste final de semana induzem a reflexões interessantes sobre a questão da História vista sob o olhar cotidiano da imprensa. Um deles, publicado na Revista, suplemento dominical do Globo, usa uma disputa entre herdeiros do líder comunista Luiz Carlos Prestes para revisitar o núcleo do conflito ideológico que marcou o século XX, em sua versão nacional. O outro, uma entrevista publicada na Folha de S.Paulo, expõe uma revisão do historiador americano Francis Fukuyama, que há 23 anos decretou – com generoso suporte da mídia – o fim da História e de toda ideologia.

Uma ideia não morre assim. O que vai morrer é o capitalismo por se injusto.
Oscar Niemeyer. Perguntado sobre o fim do comunismo.

A Revista do Globo faz um relato da controvérsia entre a primogênita de Prestes, Anita Leocádia, filha de sua relação com a alemã Olga Benário, e Maria Prestes, mãe dos outros sete filhos do “cavaleiro da esperança”. A questão começou quando Maria Prestes doou à Biblioteca Nacional documentos, fotografias e cartas familiares que revelam aspectos da vida íntima do ex-militar que se dedicou a combater o capitalismo e as oligarquias. A revelação de uma rotina quase normal na vida de um personagem que passou grande parte de sua existência na clandestinidade, no exílio ou em prisões, atiça a curiosidade de pesquisadores. Ao mesmo tempo, reduz a distância percebida entre a História propriamente dita e o período que Fukuyama considera como não História.

O Fim da História é uma teoria iniciada no século XIX por Georg Wilhelm Friedrich Hegel e posteriormente retomada, no último quarto do século XX, no contexto da crise da historiografia e das Ciências Sociais no geral.
Essa teoria sustenta, como o nome sugere, o fim dos processos históricos caracterizados como processos de mudança. Para Hegel isso iria acontecer no momento em que a humanidade atingisse o equilíbrio, representado, de acordo com ele, pela ascensão do liberalismo e da igualdade jurídica, mas com prazo indeterminado para ocorrer.
Retomada ao final do século XX, essa teoria já adquire caráter de situação ocorrida pois, de acordo com os seus pensadores, a História terminou no episódio da Queda do Muro de Berlim. Naquele momento, os antagonismos teriam terminado pelo fato de, a partir de então, haver apenas uma única potência - os EUA - e, consequentemente, uma total estabilidade.
A ideia ressurgiu em um artigo, publicado em fins de 1989 com o título de "O fim da história" e, posteriormente, em 1992, com a obra "O fim da história e o último homem", ambos de Francis Fukuyama.
Fukuyama desenvolveu uma linha de abordagem da História, desde Platão até Nietzsche, passando por Kant e pelo próprio Hegel, a fim de revigorar a teoria de que o capitalismo e a democracia burguesa constituem o coroamento da história da humanidade. Na sua ótica, após a destruição do fascismo e do socialismo, a humanidade, à época, teria atingido o ponto culminante de sua evolução com o triunfo da democracia liberal ocidental sobre todos os demais sistemas e ideologias concorrentes. Em oposição à proposta capitalista liberal, restavam apenas os vestígios de nacionalismos (sem possibilidade de significarem um projeto para a humanidade) e o fundamentalismo islâmico (restrito ao Oriente e a países periféricos). Desse modo, diante da derrocada do socialismo, o autor concluiu que a democracia liberal ocidental firmou-se como a solução final do governo humano, significando, nesse sentido, o "fim da história" da humanidade.
Wikipedia

A entrevista do cientista político americano, publicada na Folha neste domingo, 15/1, foi motivada por artigo que ele produziu para a última edição da revista Foreign Affairs, publicação científica sobre relações internacionais, com análises do cenário global sob o ponto de vista dos Estados Unidos. A mesma publicação abrigou, há 23 anos, um amplo debate sobre outro artigo de Fukuyama, que saiu originalmente na revista The National Interest e especulava sobre possíveis consequências da Perestroika, política de abertura do então lider soviético Mikhail Gorbachov.

Com a queda do Muro de Berlim, alguns meses depois, Fukuyama foi elevado à categoria de guru pela imprensa americana, e – por extensão natural – transformou-se em uma espécie de guia espiritual da imprensa brasileira, inspirando dezenas de articulistas empenhados em consolidar a tese do consenso de Washington a respeito da superioridade do liberalismo absolutista sobre qualquer outro conceito de organização social e econômica.

E agora, Josés?

A retomada da memória de Prestes, ainda que vagamente revolvida em meio a manifestações de ciumes domésticos, tende a reduzir, nos leitores, a sensação de distância entre o Brasil contemporâneo e sua história política recente, que foi interrompida por vinte anos de ditadura militar.

A revisão feita por Fukuyama sobre sua própria tese produz, ao contrário, um efeito de distanciamento, fazendo com que estes 23 anos entre a queda do Muro de Berlim e o advento da pior crise em toda a história do capitalismo pareça ainda maior. Fukuyama volta ao noticiário justamente por defender um “novo populismo” e uma maior intervenção e regulação do Estado para conter os excessos do liberalismo.

Se Francis Fukuyama parece hoje contratidório é porque, na origem, suas idéias sobre o fim da História foram transmitidas numa cadeia de propaganda ideológica da imprensa – então engajada na tese de que toda utopia coletivista estaria enterrada sob a suposta supremacia e infalibilidade dos dogmas capitalistas. Omitiu-se, por exemplo, que o pressuposto de Fukuyama tinha como base o raciocínio hegeliano sobre o “motor” da História, segundo o qual o enredo histórico nasce das tensões dialéticas entre uma tese e uma antítese. Na visão de Fukuyama – que muitos intelectuais sérios ignorados pela imprensa consideram primária e inconsistente – o fim da História se dá porque, tendo desaparecido o mundo socialista, desaparece também a antítese que se opõe à tese da supremacia do capitalismo e, portanto, deixa de existir a síntese histórica dessa relação.

Interessante observar como o conceito proposto pelo cientista político americano ganhou destaque nas duas últimas décadas e como ele ficou esquecido logo após a crise financeira de 2008, que desnudou a vulnerabilidade do liberalismo econômico absoluto. Também é curioso notar que, agora que Francis Fukuyama decide revisar sua afirmação sobre o fim da História e resolve advogar um papel mais relevante para o Estado, apenas a Folha de S.Paulo tenha se sentido na obrigação moral de ouvir seus novos argumentos.

Agora, Fukuyama simplesmente afirma que o liberalismo econômico representa um perigo para a democracia. Defende explicitamente a volta de “uma maior regulação estatal e políticas sociais que preservem os ganhos da classe média e encorajem a ascensão dos pobres para a classe média”.

Para nós, brasileiros, isso não é exatamente uma novidade.

E agora, Josés? – Que fazer com todos aqueles artigos e editoriais condenando as políticas sociais e o papel do Estado como regulador da economia?
Fonte: OI
[Via BBA]

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