O alemão Paul Breitner participou do programa de entrevista Bola da Vez da ESPN, canal esportivo de TV fechada, em abril de 2013. Uma referê...
O alemão Paul Breitner participou do programa de entrevista Bola da Vez da ESPN, canal esportivo de TV fechada, em abril de 2013. Uma referência no Bayern de Munique, Real Madrid e na seleção da Alemanha nos anos 1970, Breitner falou o que o Brasil precisava ouvir mas não queria escutar: "Precisam aceitar que estão jogando um futebol do passado".
Citando a própria experiência alemã como exemplo a ser seguido. Disse que, após perder a final para o selecionado brasileiro, em 2002, a Alemanha se reforçou, planejou o futuro e seria a favorita ao título da Copa do Mundo de 2014 no Brasil. Veja trechos da entrevista ou assista na íntegra:
Apresentador: - A Holanda eliminou o Brasil naquela Copa do Mundo [1974]. E era um time que assombrava e encantava o mundo. Como foram os momentos que antecederam aquela final para você [Holanda X Alemanha]? Como era a conversa para vocês se convencerem de que seria possível bater aquele que era considerado o melhor time?
Paul Breitner: - É muito fácil. A cada ano, a cada temporada, eu falava comigo mesmo e com meus colegas de time dizendo: nós seremos campeões. Vamos ganhar a Bundesliga. Porque eu aprendi a jogar futebol para vencer, não para ser a sensação. E essa é a maior diferença entre jogadores alemães e, por muito tempo, jogadores espanhóis, alguns jogadores brasileiros, italianos e portugueses. Muitos desses jogam para se exibir, para demonstrar suas habilidades. A vitória para eles está em segundo ou terceiro lugar. O mais importante para esse tipo de jogador é se tornar uma estrela em uma partida. Nós começamos a jogar para ganhar e, se possível, ganhar todo dia. E se estivermos vencendo um jogo já no final do segundo tempo, aí talvez possamos demonstrar nossas habilidades técnicas. Isto, por exemplo, é o motivo pelo qual durante muito tempo a seleção espanhola não ganhou nada. Quando eu fui jogar no Real Madrid, era importante para os jogadores demonstrar o que cada um era capaz de fazer com a bola. Mas eu fui educado e todos os alemães foram educados a começar, a correr, a lutar para vencer... Nós praticamos todos os esportes: Tênis, F1, natação... para vencer. Não para diversão.
- Indo no seu raciocínio sobre esse desejo incontido de vencer que parece fazer parte do esporte na Alemanha, têm surgido muitos talentos alemães nos últimos anos, desde 2006, Podolsky, Philip Lahm, Mario Götze, Marco Reus [cortado da seleção alemã de 2014 por lesão sofrida em amistoso a dez dias da Copa], no entanto, a conquista de um título já não acontece há 17 anos, desde 1996 não há títulos para a seleção alemã. E mesmo em termos de clubes, o último título internacional foi conquistado pelo Bayern de Munique, em 2001. Está diminuindo esse desejo de vencer?
Quando você diz que o último título que ganhamos foi em 1996, o título da Eurocopa na Inglaterra, você tem razão. Esse foi um dos divisores de água no futebol alemão. Porque desde o início dos anos 90 o futebol mudou muito. Foi assim nos anos 1990 e na última década.
E foi por isso que começamos a jogar pior a cada competição.(...)
Paul Breitner: - (Suspiro) Você sabe, quando vejo jovens brasileiros atualmente, é a mesma coisa que há dez, vinte anos atrás. Há muito talento, muita habilidade técnica, mas espero que eles possam aprender não apenas isto, mas que alguém lhes dê a ideia do que está acontecendo agora no futebol. Que é algo que não está ocorrendo aqui no Brasil. (...) Espero que eles não desenvolvam apenas suas habilidades técnicas, mas também em VELOCIDADE! VELOCIDADE!
Entrevistador: - O Brasil dormiu como campeão? O futebol brasileiro envelheceu?
Paul Breitner: - Sim. O Brasil dormiu sobre os louros de 2002. (...) Você não estão observando o que acontece nos outros países. Como, por exemplo, a Alemanha. E vocês precisam fazer isso. Precisam aceitar que estão jogando um futebol do passado. (...) Nós jogamos mirando o exemplo do Barcelona e da Seleção espanhola. Tentando aprender com eles e tentando jogar um futebol moderno.
Ao ser perguntado sobre quanto tempo levaria desde de um "ponto de virada" até as almejadas vitórias:
Paul Breitner: - Nosso "turning point" foi em 2004, na Eurocopa em Portugal, e aí começamos a mudar muitas coisas.
Você precisa de, no mínimo, de seis a oito anos para mudar seu nível de jogar futebol. Não adianta nada tentar mudar jogadores que já tenham 17, 18, 19 anos de idade. Você precisa começar com adolescentes de 12, 13 anos de idade e você precisa mudar coisas que importam.
Ele também afirmou que a Alemanha antes forjava seus atletas visando 70% de preparo físico e 30% de técnica. Hoje esses fatores estariam tendo igual atenção.
Breitner ainda vaticinou a Alemanha como "favoritaça" ao título em 2014. Claro que na época a fala de Paul Breitner soou arrogante, afinal ele estava ensinando os pentacampeões a rezar a missa. Depois dos 7 a 1 sua profecia ressoa como alguém com Síndrome de Cassandra, aquele que está vendo a vaca indo para o brejo e até avisa mesmo sabendo ser totalmente em vão. Melhor para ele.
Para o piorar, Breitner ainda afirmava que sua seleção ainda iria estar em ótima forma em 2018, com a segurança de quem sabe que trabalho de base não se faz da noite para o dia. Isto é, ele pode nos avisar sem maiores arrependimentos pois não teríamos condições de igualar a condição do selecionado germânico a tempo de evitar mais humilhações na Rússia.
Sobre a vinda de Pep Guardiola como técnico da Seleção brasileira foi taxativo:
Certamente a geração atual estará mais consciente, menos pressionada, mais amadurecida e nosso futebol devidamente calçado com as sandálias da humildade. Certamente teremos muito mais condição de fazer um time melhor treinado e mais "mordido" (nada a ver com você, Suarez). Poderíamos ter aprendido com os erros dos outros. Mas talvez nosso passado de conquista e a nossa tradição de sempre termos um craque heroico para nos salvar tenha impedido a real evolução de nosso futebol (que tem muito a ver com nosso estágio civilizatório, a meu ver, como sociedade).
Como aprender com o erro alheio é exigir muito da nossa sabedoria novomundista, pelo menos que aprendamos com o nosso Titanic desportivo. No fim das contas, até pelo notório tratamento respeitoso desprendido pelos campeões a seus anfitriões (nada parecido com o que seria nos dado pelos "hermanos"), até que a Copa está em boas mãos.
Obrigado "Herr" Paul pelas lições. Precisávamos mesmo ouvir isso. E se um dia devolvermos a histórica goleada sofrida, não vou achar que estarei me vingando de alguém que nos humilhou. Apenas estaremos mostrando que também evoluímos e até superamos nossas angústias, mas com uma certa tristeza de saber o quanto isso deverá doer na alma de um povo que leva isso muito mais a sério do que nós. E isso já não será motivo de piada e nem acharei graça de eventuais dancinhas de desportividade duvidosa.
[Via BBA]
Breitner: O futebol brasileiro dorme desde 2002. |
Citando a própria experiência alemã como exemplo a ser seguido. Disse que, após perder a final para o selecionado brasileiro, em 2002, a Alemanha se reforçou, planejou o futuro e seria a favorita ao título da Copa do Mundo de 2014 no Brasil. Veja trechos da entrevista ou assista na íntegra:
Apresentador: - A Holanda eliminou o Brasil naquela Copa do Mundo [1974]. E era um time que assombrava e encantava o mundo. Como foram os momentos que antecederam aquela final para você [Holanda X Alemanha]? Como era a conversa para vocês se convencerem de que seria possível bater aquele que era considerado o melhor time?
Paul Breitner: - É muito fácil. A cada ano, a cada temporada, eu falava comigo mesmo e com meus colegas de time dizendo: nós seremos campeões. Vamos ganhar a Bundesliga. Porque eu aprendi a jogar futebol para vencer, não para ser a sensação. E essa é a maior diferença entre jogadores alemães e, por muito tempo, jogadores espanhóis, alguns jogadores brasileiros, italianos e portugueses. Muitos desses jogam para se exibir, para demonstrar suas habilidades. A vitória para eles está em segundo ou terceiro lugar. O mais importante para esse tipo de jogador é se tornar uma estrela em uma partida. Nós começamos a jogar para ganhar e, se possível, ganhar todo dia. E se estivermos vencendo um jogo já no final do segundo tempo, aí talvez possamos demonstrar nossas habilidades técnicas. Isto, por exemplo, é o motivo pelo qual durante muito tempo a seleção espanhola não ganhou nada. Quando eu fui jogar no Real Madrid, era importante para os jogadores demonstrar o que cada um era capaz de fazer com a bola. Mas eu fui educado e todos os alemães foram educados a começar, a correr, a lutar para vencer... Nós praticamos todos os esportes: Tênis, F1, natação... para vencer. Não para diversão.
Nossos pais e nossos professores já nos ensinam quando temos apenas três ou quatro anos que qualquer esporte não é pura diversão. É para vencer.
- Indo no seu raciocínio sobre esse desejo incontido de vencer que parece fazer parte do esporte na Alemanha, têm surgido muitos talentos alemães nos últimos anos, desde 2006, Podolsky, Philip Lahm, Mario Götze, Marco Reus [cortado da seleção alemã de 2014 por lesão sofrida em amistoso a dez dias da Copa], no entanto, a conquista de um título já não acontece há 17 anos, desde 1996 não há títulos para a seleção alemã. E mesmo em termos de clubes, o último título internacional foi conquistado pelo Bayern de Munique, em 2001. Está diminuindo esse desejo de vencer?
Quando você diz que o último título que ganhamos foi em 1996, o título da Eurocopa na Inglaterra, você tem razão. Esse foi um dos divisores de água no futebol alemão. Porque desde o início dos anos 90 o futebol mudou muito. Foi assim nos anos 1990 e na última década.
E nós alemães começamos pensar como vocês brasileiro estão pensando atualmente: Nós somos os melhores. Não precisamos prestar atenção em ninguém, não precisamos aprender nada de ninguém.
E foi por isso que começamos a jogar pior a cada competição.(...)
Paul Breitner: - (Suspiro) Você sabe, quando vejo jovens brasileiros atualmente, é a mesma coisa que há dez, vinte anos atrás. Há muito talento, muita habilidade técnica, mas espero que eles possam aprender não apenas isto, mas que alguém lhes dê a ideia do que está acontecendo agora no futebol. Que é algo que não está ocorrendo aqui no Brasil. (...) Espero que eles não desenvolvam apenas suas habilidades técnicas, mas também em VELOCIDADE! VELOCIDADE!
Velocidade de jogo. Eu acho que é isso que o futebol brasileiro precisa para se desenvolver. Especialmente no que diz respeito aos times de base.
Entrevistador: - O Brasil dormiu como campeão? O futebol brasileiro envelheceu?
Paul Breitner: - Sim. O Brasil dormiu sobre os louros de 2002. (...) Você não estão observando o que acontece nos outros países. Como, por exemplo, a Alemanha. E vocês precisam fazer isso. Precisam aceitar que estão jogando um futebol do passado. (...) Nós jogamos mirando o exemplo do Barcelona e da Seleção espanhola. Tentando aprender com eles e tentando jogar um futebol moderno.
Ao ser perguntado sobre quanto tempo levaria desde de um "ponto de virada" até as almejadas vitórias:
Paul Breitner: - Nosso "turning point" foi em 2004, na Eurocopa em Portugal, e aí começamos a mudar muitas coisas.
Antes de 2004 pensávamos apenas em períodos curtos de dois anos.
Você precisa de, no mínimo, de seis a oito anos para mudar seu nível de jogar futebol. Não adianta nada tentar mudar jogadores que já tenham 17, 18, 19 anos de idade. Você precisa começar com adolescentes de 12, 13 anos de idade e você precisa mudar coisas que importam.
Ele também afirmou que a Alemanha antes forjava seus atletas visando 70% de preparo físico e 30% de técnica. Hoje esses fatores estariam tendo igual atenção.
Breitner ainda vaticinou a Alemanha como "favoritaça" ao título em 2014. Claro que na época a fala de Paul Breitner soou arrogante, afinal ele estava ensinando os pentacampeões a rezar a missa. Depois dos 7 a 1 sua profecia ressoa como alguém com Síndrome de Cassandra, aquele que está vendo a vaca indo para o brejo e até avisa mesmo sabendo ser totalmente em vão. Melhor para ele.
Para o piorar, Breitner ainda afirmava que sua seleção ainda iria estar em ótima forma em 2018, com a segurança de quem sabe que trabalho de base não se faz da noite para o dia. Isto é, ele pode nos avisar sem maiores arrependimentos pois não teríamos condições de igualar a condição do selecionado germânico a tempo de evitar mais humilhações na Rússia.
Sobre a vinda de Pep Guardiola como técnico da Seleção brasileira foi taxativo:
É uma ideia ridícula.(...) Vocês não precisam mudar sua seleção nacional. Vocês precisam mudar o seu futebol.
Certamente a geração atual estará mais consciente, menos pressionada, mais amadurecida e nosso futebol devidamente calçado com as sandálias da humildade. Certamente teremos muito mais condição de fazer um time melhor treinado e mais "mordido" (nada a ver com você, Suarez). Poderíamos ter aprendido com os erros dos outros. Mas talvez nosso passado de conquista e a nossa tradição de sempre termos um craque heroico para nos salvar tenha impedido a real evolução de nosso futebol (que tem muito a ver com nosso estágio civilizatório, a meu ver, como sociedade).
Como aprender com o erro alheio é exigir muito da nossa sabedoria novomundista, pelo menos que aprendamos com o nosso Titanic desportivo. No fim das contas, até pelo notório tratamento respeitoso desprendido pelos campeões a seus anfitriões (nada parecido com o que seria nos dado pelos "hermanos"), até que a Copa está em boas mãos.
Obrigado "Herr" Paul pelas lições. Precisávamos mesmo ouvir isso. E se um dia devolvermos a histórica goleada sofrida, não vou achar que estarei me vingando de alguém que nos humilhou. Apenas estaremos mostrando que também evoluímos e até superamos nossas angústias, mas com uma certa tristeza de saber o quanto isso deverá doer na alma de um povo que leva isso muito mais a sério do que nós. E isso já não será motivo de piada e nem acharei graça de eventuais dancinhas de desportividade duvidosa.
[Via BBA]