A vergonha é uma epidemia silenciosa, o segredo por trás de várias formas de desvios comportamentais. Brené Brown, cuja palestra anterior so...
A vergonha é uma epidemia silenciosa, o segredo por trás de várias formas de desvios comportamentais. Brené Brown, cuja palestra anterior sobre vulnerabilidade tornou-se sucesso viral, explora o que pode acontecer quando as pessoas se confrontam com suas vergonhas. Seu próprio humor, humanidade e vulnerabilidade brilham através de cada palavra.
Vou contar a vocês um pouco sobre minha palestra no TEDxHouston. Na manhã seguinte àquela palestra, eu acordei com a pior ressaca de vulnerabilidade da minha vida. Na verdade não saí de casa por uns três dias.
A primeira vez que saí foi para almoçar com uma amiga. Quando entrei, ela já estava à mesa. Então me sentei e ela disse, "Nossa, você está um lixo." Eu disse, "Obrigada, eu me sinto realmente -- não estou funcionando bem." E ela disse, "O que está acontecendo?" E eu disse, "Acabei de dizer a 500 pessoas que me tornei uma pesquisadora para evitar a vulnerabilidade. E que quando a vulnerabilidade surgia em meus dados, como absolutamente essencial a uma vida plena, eu disse a essas 500 pessoas que tive uma crise. Eu tinha um slide escrito Crise. Em que momento pensei que isso seria boa ideia?" (Risos)
E ela disse, "Eu assisti sua palestra ao vivo via internet. Não parecia realmente você. Foi um pouco diferente de como você geralmente faz. Mas foi ótimo." E eu disse, "Isso não pode acontecer. YouTube, eles vão postar isso no YouTube. E isso significa umas 600, 700 pessoas." (Risos) E ela disse, "Bem, acho que é tarde demais."
E eu disse, "Vou lhe fazer uma pergunta." E ela disse, "Sim." E eu disse, "Você se lembra quando estávamos na faculdade e éramos muito loucas e meio bobas?" E ela disse, "Sim." E eu disse, "Lembra quando deixamos uma mensagem péssima na secretária eletrônica do nosso ex-namorado? E depois tivemos que invadir o quarto dele e apagar a fita?" (Risos) E ela, "Ah... não." (Risos) Então, claro, a única coisa que pude pensar em dizer naquela hora foi, "É, nem eu. Aquele... nem eu."
E pensei comigo mesma, "Brené, o que está fazendo? O que você está fazendo? Por que mencionou isso? Enlouqueceu? Suas irmãs seriam perfeitas para isso." Então olhei para trás e ela disse, "Vai mesmo invadir e roubar o vídeo antes que o postem no YouTube?" E eu disse, "Estou pensando um pouquinho a respeito." (Risos) Ela disse, "Você é o pior exemplo de vulnerabilidade que existe." (Risos) E então a olhei e disse algo que naquele momento pareceu um pouco dramático, mas acabou sendo mais profético que dramático. Eu disse, "Se 500 se transformarem em 1.000 ou 2.000, é o meu fim." (Risos) Eu não tinha um plano reserva para 4 milhões.
(Risos)
E minha vida acabou mesmo quando isso aconteceu. E talvez a parte mais difícil sobre o fim da minha vida é que aprendi algo muito duro sobre mim, que foi o seguinte, por mais que eu me frustrasse por ser incapaz de mostrar meu trabalho ao mundo, havia uma parte de mim que trabalhava arduamente arquitetando um jeito de continuar pequena, continuar logo abaixo do radar. Mas quero falar sobre o que aprendi.
Há duas coisas que aprendi neste último ano. A primeira é que vulnerabilidade não é fraqueza. E esse mito é extremamente perigoso. Deixe-me perguntar-lhes honestamente -- e estou avisando, sou terapeuta por formação, por isso posso aguardá-los desconfortavelmente -- então se puderem apenas levantar a mão seria fantástico -- quantos de vocês, honestamente, quando pensam em fazer algo de vulnerável ou dizer algo de vulnerável, pensam, "Nossa, vulnerabilidade é fraqueza. Isso é fraqueza?" Quantos de vocês pensam que vulnerabilidade e fraqueza são sinônimos? A maioria das pessoas. Agora deixe-me fazer esta pergunta: Durante esta semana no TED, quantos de vocês, quando viram vulnerabilidade aqui no palco, pensaram que era pura coragem? Vulnerabilidade não é fraqueza. Defino vulnerabilidade como risco emocional, exposição, incerteza. Ela abastece nosso cotidiano. E cheguei a conclusão -- este é meu 12º ano de pesquisa -- que vulnerabilidade é a nossa mais precisa medida de coragem -- ser vulnerável, permitir que nos vejam, ser honesto.
Uma das coisas estranhas que aconteceu foi, depois da explosão TED, eu recebi muitas propostas para falar por todo o país -- todo mundo: de escolas e reuniões de pais a empresas Fortune 500. E muitos dos convites eram assim, "Olá, Dra. Brown. Adoramos seu TEDTalk. Gostaríamos que viesse falar. Ficaríamos gratos se não mencionasse vulnerabilidade ou vergonha." (Risos) Gostariam que eu falasse sobre o quê? Há três principais respostas. Para ser honesta, são quase todas do setor empresarial: inovação, criatividade e mudança. Então deixe-me dizer oficialmente que vulnerabilidade é o berço da inovação, criatividade e mudança. (Aplausos) Criar é fazer algo que não existia antes. Não há nada mais vulnerável que isso. Adaptabilidade à mudança tem tudo a ver com vulnerabilidade.
A segunda coisa, além de compreender afinal a relação entre vulnerabilidade e coragem, a segunda coisa que aprendi é: Temos que falar sobre vergonha. E serei bem honesta com vocês. Quando me tornei uma "pesquisadora de vulnerabilidade" e isso se tornou importante por causa do TEDTalk -- e não estou brincando.
Darei um exemplo. Há três meses, eu estava numa loja de artigos esportivos comprando óculos de natação, caneleiras e todas essas coisas que os pais compram em lojas de esportes. A 30 metros de distância, ouvi o seguinte: "Vulnerabilidade TED! Vulnerabilidade TED!" (Risos) Sou de uma quinta geração de texanos. Nosso slogan familiar é "Prontos para o que der e vier." Não sou uma pesquisadora de vulnerabilidade nata. Então, continuei andando e ela me seguindo. (Risos) Aí eu ouço, "Vulnerabilidade TED!" Eu me viro, e digo, "Oi." Ela fica bem próxima e diz, "Você é a pesquisadora de vergonha que teve uma crise." (Risos) Nesse momento os pais estavam puxando os filhos. "Não olhem." E estou tão cansada nessa fase da minha vida, olho para ela e digo, "Foi um tremendo despertar espiritual."
(Risos)
(Aplausos)
E ela olha de volta e faz assim, "Eu sei." E diz, "Assistimos ao seu TEDTalk no meu clube do livro. Depois lemos seu livro e nos apelidamos "As garotas em Crise." E ela disse, "Nosso slogan é: "Estamos aos pedaços e a sensação é fantástica." (Risos) Podem imaginar como me sinto numa reunião de faculdade.
Então quando me tornei Vulnerabilidade TED, como uma boneca de ação -- como a Barbie Ninja, só que sou Vulnerabilidade TED -- pensei, vou deixar esse negócio de vergonha pra lá, porque passei seis anos estudando a vergonha antes de começar a escrever e falar sobre vulnerabilidade. E pensei, graças a Deus, porque vergonha é um tópico horrível, ninguém quer falar sobre isso. É a melhor forma de calar as pessoas no avião. "O que você faz?" "Eu estudo a vergonha." "Oh." (Risos) E estou te vendo. (Risos)
Mas ao sobreviver ao ano passado, lembrei-me de uma regra básica -- não uma regra de pesquisa, mas um imperativo moral que vem de berço -- você tem que dançar com quem a levou ao baile. E não apenas aprendi sobre vulnerabilidade, coragem, criatividade e inovação ao estudar vulnerabilidade. Aprendi sobre essas coisas ao estudar a vergonha. Então quero conduzí-los à vergonha. Analistas jungianos chamam a vergonha de o pântano da alma. Vamos adentrá-la. E o objetivo não é adentrá-la, construir uma casa e morar lá. É calçar galochas, atravessá-la e encontrar nosso caminho de volta. Eis o motivo.
Tivemos o mais convincente chamado a ter uma conversa neste país, e no mundo todo, sobre a questão racial, certo? Sim? Nós tivemos. Sim? Não podemos ter essa conversa sem passar pela vergonha, porque não podemos falar sobre raça sem falar sobre privilégio. E quando as pessoas começam a falar sobre privilégio, elas ficam paralisadas pela vergonha. Nós ouvimos uma solução simples e brilhante para que pessoas não morram em cirurgias, que é ter uma lista de verificação Não se resolve esse problema sem falar sobre vergonha, porque quando esse pessoal aprende a suturar, aprende também a dar pontos em sua auto-estima para que ela seja super poderosa. E gente super poderosa não precisa de lista de verificação.
Eu tive que escrever o nome desse TED Fellow para não me confundir aqui. Myshkin Ingawale, espero que tenha acertado. (Aplausos) Eu vi os TED Fellows no meu primeiro dia aqui. Ele se levantou e explicou como havia sido levado a criar tecnologia para ajudar a diagnosticar anemia porque as pessoas morriam desnecessariamente. E ele disse, "Eu vi essa necessidade. Então sabe o que fiz? Eu a criei." E todo mundo começou a aplaudir e dizer "Muito bem!" E ele disse, "Mas não deu certo. Então eu a fiz mais 32 vezes, e aí deu certo."
Sabe qual é o grande segredo do TED? Estou louca para contar isso às pessoas. Acho que é o que estou fazendo agora. (Risos) Essa é meio que a conferência do fracasso. Não, é sim. (Aplausos) Sabe por que esse lugar é incrível? Porque aqui, muito poucas pessoas têm medo de fracassar. E ninguém que vem ao palco, que eu tenha visto, não fracassou. Já fracassei terrivelmente muitas vezes. Penso que o mundo não entende isso por causa da vergonha.
Há uma ótima citação que me salvou ano passado, de Theodore Roosevelt. Muitas pessoas se referem a ela como a citação do "Homem na Arena". E é assim: "Quem importa não é o que critica. Não é o homem que fica sentado apontando como o outro poderia ter feito melhor e como ele tropeça e cai. O crédito vai para o homem na arena cuja face está marcada por poeira, sangue e suor. Mas quando ele está na arena, na melhor das hipóteses, ele vence, e na pior, ele perde, mas quando ele fracassa, quando ele perde, ele o faz com grande ousadia."
E para mim, essa conferência é sobre isso. A vida é sobre isso, sobre ousar com grandeza, sobre estar numa arena. Quando você caminha até a arena, põe sua mão na porta, e pensa, "Vou entrar e vou tentar isso," a vergonha é o diabinho que diz, "An an". Você não é bom o bastante. Nunca terminou aquele MBA. Sua esposa o deixou. Sei que seu pai não estava em Luxemburgo, ele estava em Sing Sing. Sei daquelas coisas que aconteceram enquanto você crescia. Sei que você pensa que não é bonito o bastante ou inteligente o bastante, ou talentoso o bastante, ou poderoso o bastante. Sei que seu pai nunca prestou atenção, nem quando você conseguiu ser CFO." Vergonha é essa coisa.
E se nós conseguimos silenciá-la, entrar e dizer, "Vou fazer isso," nós procuramos e o crítico que vemos apontando e rindo, 99 porcento das vezes quem é? Nós. A vergonha passa por dois clichês -- "nunca bom o bastante" e, se você conseguir se livrar desse, "quem você pensa que é?" O que há para se entender sobre vergonha é que não é culpa. Vergonha é um foco no Eu, culpa é um foco no comportamento. Vergonha é "Eu sou ruim." Culpa é "Eu fiz algo ruim." Quantos de vocês, se fizessem algo que me magoasse, desejariam dizer, "Desculpe-me. Cometi um erro?" Quantos de vocês desejariam dizer isso? Culpa: Desculpe-me. Cometi um erro. Vergonha: Desculpe-me. Eu sou um erro.
Há uma grande diferença entre vergonha e culpa. E aqui está o que precisam saber. Vergonha está altamente correlacionada a vício, depressão, violência, agressão, bullying, suicídio, distúrbios alimentares. E aqui está o que vocês mais precisam saber. Culpa se relaciona inversamente com essas coisas. A capacidade de lidar com algo que fizemos ou que falhamos em fazer contra quem queremos ser é incrivelmente adaptável. É desconfortável, mas adaptável.
A outra coisa que precisam saber sobre a vergonha é que ela é absolutamente organizada por gênero. Se a vergonha se abate sobre mim e sobre Chris, sentiremos o mesmo. Todos que estão sentados aqui conhecem a sensação de vergonha. Estamos certos que as únicas pessoas que não experienciam vergonha são as pessoas sem capacidade de conexão ou empatia. O que significa, sim, eu sinto um pouco de vergonha; não, eu sou um sociopata. Então eu opto por, sim, você sente um pouco de vergonha. Homens e mulheres sentem vergonha do mesmo modo, mas ela é organizada por gênero.
Para as mulheres, o melhor exemplo que posso dar é Enjoli o comercial: "Consigo estender a roupa, arrumar o almoço, distribuir beijos e estar no trabalho às 8:55. Consigo comprar o bacon, fritá-lo e jamais deixá-lo esquecer que é um homem." Para as mulheres, vergonha é fazer tudo isso, fazê-lo com perfeição e nunca deixá-los as ver suadas. Não sei quantos perfumes esse comercial vendeu, mas garanto a vocês, ele movimentou um monte de anti-depressivos e ansiolíticos. (Risos) Vergonha, para as mulheres, é essa internet de expectativas inalcansáveis, contraditórias e competitivas sobre quem deveríamos ser. É uma camisa de força.
Para os homens, Vergonha não é um monte de expectativas contraditórias e competitivas. A vergonha é uma só, não ser entendido como o quê? Fraco. Não entrevistei homens nos primeiros quatro anos do meu estudo. E só o fiz quando um homem olhou para mim um dia, apó a sessão de autógrafos, e disse, "Adoro o que você diz sobre vergonha, estou curioso em saber o motivo de não mencionar homens." E eu disse, "Não estudo homens." E ele disse, "É conveniente." (Risos) E eu disse, "Por que? E ele disse, "Porque você diz para nos abrir, contar nossa história, sermos vulneráveis. Mas você vê esses livros que acabou de autografar para minha esposa e três filhas?" Eu disse, "Sim." "Elas prefeririam que eu morresse em cima de um cavalo branco do que me ver cair ao chão. Quando nos expomos e ficamos vulneráveis somos massacrados. E não me diga que isso é coisa de homens, treinadores e pais, porque as mulheres da minha vida são mais duras comigo do que qualquer um."
Então começei a entrevistar homens e fazer perguntas. E o que aprendi foi isso: Mostre-me uma mulher que consiga de fato dialogar com um homem que esteja vulnerável e receoso, e eu lhes mostrarei uma mulher que faz um trabalho incrível. Mostre-me um homem que consiga dialogar com uma mulher que está cheia, que não consegue fazer mais nada, e a primeira resposta dele não é, "Eu esvaziei a lava-louças," ao contrário, ele a ouve de verdade -- porque é tudo o que precisamos -- Mostro-lhes um cara que fez um bom trabalho.
Vergonha é uma epidemia em nossa cultura. E para conseguir sair debaixo dela, achar o caminho para nos encontrar, temos que entender como isso nos afeta e como isso afeta o modo como educamos nossos filhos, como trabalhamos, como vemos uns aos outros. Rapidamente, uma pesquisa feita por Mahalik no Boston College. Ele perguntou: O que as mulheres precisam para se adequar às normas femininas? As principais resposta neste país: ser simpática, magra, modesta e usar todos os recursos disponíveis para a aparência. Quando ele perguntou sobre homens, o que os homens neste país precisam fazer para se adequar às normas masculinas, as respostas foram: sempre mostrar controle emocional, trabalho primeiro, busca por status e violência.
Se vamos buscar um caminho para nos encontrar, temos que entender e conhecer a empatia, porque empatia é o antídoto para a vergonha. Se você colocar a vergonha numa placa de Petri, ela precisará de 3 coisas para crescer exponencialmente: sigilo, silêncio e julgamento. Se colocar igual quantidade de vergonha numa placa Petri e dosá-la com empatia, ela não sobreviverá. As duas palavras mais poderosas quando estamos em conflito: eu também.
E então eu os deixo com este pensamento. Se vamos buscar o caminho para nos encontrar, a vulnerabilidade será esse caminho. E sei que é sedutor ficar fora da arena, pois penso que fiz isso a vida toda, e penso comigo mesma, eu vou entrar lá e arrasar quando eu for à prova de balas e perfeita. E isso é sedutor. Mas a verdade é que isso jamais acontecerá. E mesmo se você ficar o mais perfeito possível e mais à prova de balas que puder, quando entrar lá, não será o que queremos ver. Queremos que você entre lá. Queremos estar com você e de frente para você. E simplesmente queremos, para nós mesmos, para quem nos importa muito e para nossos colegas de trabalho, que ousem com grandeza.
Muito obrigada a todos. Foi um grande prazer.
(Aplausos)
[Via BBA]
Vou contar a vocês um pouco sobre minha palestra no TEDxHouston. Na manhã seguinte àquela palestra, eu acordei com a pior ressaca de vulnerabilidade da minha vida. Na verdade não saí de casa por uns três dias.
A primeira vez que saí foi para almoçar com uma amiga. Quando entrei, ela já estava à mesa. Então me sentei e ela disse, "Nossa, você está um lixo." Eu disse, "Obrigada, eu me sinto realmente -- não estou funcionando bem." E ela disse, "O que está acontecendo?" E eu disse, "Acabei de dizer a 500 pessoas que me tornei uma pesquisadora para evitar a vulnerabilidade. E que quando a vulnerabilidade surgia em meus dados, como absolutamente essencial a uma vida plena, eu disse a essas 500 pessoas que tive uma crise. Eu tinha um slide escrito Crise. Em que momento pensei que isso seria boa ideia?" (Risos)
E ela disse, "Eu assisti sua palestra ao vivo via internet. Não parecia realmente você. Foi um pouco diferente de como você geralmente faz. Mas foi ótimo." E eu disse, "Isso não pode acontecer. YouTube, eles vão postar isso no YouTube. E isso significa umas 600, 700 pessoas." (Risos) E ela disse, "Bem, acho que é tarde demais."
E eu disse, "Vou lhe fazer uma pergunta." E ela disse, "Sim." E eu disse, "Você se lembra quando estávamos na faculdade e éramos muito loucas e meio bobas?" E ela disse, "Sim." E eu disse, "Lembra quando deixamos uma mensagem péssima na secretária eletrônica do nosso ex-namorado? E depois tivemos que invadir o quarto dele e apagar a fita?" (Risos) E ela, "Ah... não." (Risos) Então, claro, a única coisa que pude pensar em dizer naquela hora foi, "É, nem eu. Aquele... nem eu."
E pensei comigo mesma, "Brené, o que está fazendo? O que você está fazendo? Por que mencionou isso? Enlouqueceu? Suas irmãs seriam perfeitas para isso." Então olhei para trás e ela disse, "Vai mesmo invadir e roubar o vídeo antes que o postem no YouTube?" E eu disse, "Estou pensando um pouquinho a respeito." (Risos) Ela disse, "Você é o pior exemplo de vulnerabilidade que existe." (Risos) E então a olhei e disse algo que naquele momento pareceu um pouco dramático, mas acabou sendo mais profético que dramático. Eu disse, "Se 500 se transformarem em 1.000 ou 2.000, é o meu fim." (Risos) Eu não tinha um plano reserva para 4 milhões.
(Risos)
E minha vida acabou mesmo quando isso aconteceu. E talvez a parte mais difícil sobre o fim da minha vida é que aprendi algo muito duro sobre mim, que foi o seguinte, por mais que eu me frustrasse por ser incapaz de mostrar meu trabalho ao mundo, havia uma parte de mim que trabalhava arduamente arquitetando um jeito de continuar pequena, continuar logo abaixo do radar. Mas quero falar sobre o que aprendi.
Há duas coisas que aprendi neste último ano. A primeira é que vulnerabilidade não é fraqueza. E esse mito é extremamente perigoso. Deixe-me perguntar-lhes honestamente -- e estou avisando, sou terapeuta por formação, por isso posso aguardá-los desconfortavelmente -- então se puderem apenas levantar a mão seria fantástico -- quantos de vocês, honestamente, quando pensam em fazer algo de vulnerável ou dizer algo de vulnerável, pensam, "Nossa, vulnerabilidade é fraqueza. Isso é fraqueza?" Quantos de vocês pensam que vulnerabilidade e fraqueza são sinônimos? A maioria das pessoas. Agora deixe-me fazer esta pergunta: Durante esta semana no TED, quantos de vocês, quando viram vulnerabilidade aqui no palco, pensaram que era pura coragem? Vulnerabilidade não é fraqueza. Defino vulnerabilidade como risco emocional, exposição, incerteza. Ela abastece nosso cotidiano. E cheguei a conclusão -- este é meu 12º ano de pesquisa -- que vulnerabilidade é a nossa mais precisa medida de coragem -- ser vulnerável, permitir que nos vejam, ser honesto.
Uma das coisas estranhas que aconteceu foi, depois da explosão TED, eu recebi muitas propostas para falar por todo o país -- todo mundo: de escolas e reuniões de pais a empresas Fortune 500. E muitos dos convites eram assim, "Olá, Dra. Brown. Adoramos seu TEDTalk. Gostaríamos que viesse falar. Ficaríamos gratos se não mencionasse vulnerabilidade ou vergonha." (Risos) Gostariam que eu falasse sobre o quê? Há três principais respostas. Para ser honesta, são quase todas do setor empresarial: inovação, criatividade e mudança. Então deixe-me dizer oficialmente que vulnerabilidade é o berço da inovação, criatividade e mudança. (Aplausos) Criar é fazer algo que não existia antes. Não há nada mais vulnerável que isso. Adaptabilidade à mudança tem tudo a ver com vulnerabilidade.
A segunda coisa, além de compreender afinal a relação entre vulnerabilidade e coragem, a segunda coisa que aprendi é: Temos que falar sobre vergonha. E serei bem honesta com vocês. Quando me tornei uma "pesquisadora de vulnerabilidade" e isso se tornou importante por causa do TEDTalk -- e não estou brincando.
Darei um exemplo. Há três meses, eu estava numa loja de artigos esportivos comprando óculos de natação, caneleiras e todas essas coisas que os pais compram em lojas de esportes. A 30 metros de distância, ouvi o seguinte: "Vulnerabilidade TED! Vulnerabilidade TED!" (Risos) Sou de uma quinta geração de texanos. Nosso slogan familiar é "Prontos para o que der e vier." Não sou uma pesquisadora de vulnerabilidade nata. Então, continuei andando e ela me seguindo. (Risos) Aí eu ouço, "Vulnerabilidade TED!" Eu me viro, e digo, "Oi." Ela fica bem próxima e diz, "Você é a pesquisadora de vergonha que teve uma crise." (Risos) Nesse momento os pais estavam puxando os filhos. "Não olhem." E estou tão cansada nessa fase da minha vida, olho para ela e digo, "Foi um tremendo despertar espiritual."
(Risos)
(Aplausos)
E ela olha de volta e faz assim, "Eu sei." E diz, "Assistimos ao seu TEDTalk no meu clube do livro. Depois lemos seu livro e nos apelidamos "As garotas em Crise." E ela disse, "Nosso slogan é: "Estamos aos pedaços e a sensação é fantástica." (Risos) Podem imaginar como me sinto numa reunião de faculdade.
Então quando me tornei Vulnerabilidade TED, como uma boneca de ação -- como a Barbie Ninja, só que sou Vulnerabilidade TED -- pensei, vou deixar esse negócio de vergonha pra lá, porque passei seis anos estudando a vergonha antes de começar a escrever e falar sobre vulnerabilidade. E pensei, graças a Deus, porque vergonha é um tópico horrível, ninguém quer falar sobre isso. É a melhor forma de calar as pessoas no avião. "O que você faz?" "Eu estudo a vergonha." "Oh." (Risos) E estou te vendo. (Risos)
Mas ao sobreviver ao ano passado, lembrei-me de uma regra básica -- não uma regra de pesquisa, mas um imperativo moral que vem de berço -- você tem que dançar com quem a levou ao baile. E não apenas aprendi sobre vulnerabilidade, coragem, criatividade e inovação ao estudar vulnerabilidade. Aprendi sobre essas coisas ao estudar a vergonha. Então quero conduzí-los à vergonha. Analistas jungianos chamam a vergonha de o pântano da alma. Vamos adentrá-la. E o objetivo não é adentrá-la, construir uma casa e morar lá. É calçar galochas, atravessá-la e encontrar nosso caminho de volta. Eis o motivo.
Tivemos o mais convincente chamado a ter uma conversa neste país, e no mundo todo, sobre a questão racial, certo? Sim? Nós tivemos. Sim? Não podemos ter essa conversa sem passar pela vergonha, porque não podemos falar sobre raça sem falar sobre privilégio. E quando as pessoas começam a falar sobre privilégio, elas ficam paralisadas pela vergonha. Nós ouvimos uma solução simples e brilhante para que pessoas não morram em cirurgias, que é ter uma lista de verificação Não se resolve esse problema sem falar sobre vergonha, porque quando esse pessoal aprende a suturar, aprende também a dar pontos em sua auto-estima para que ela seja super poderosa. E gente super poderosa não precisa de lista de verificação.
Eu tive que escrever o nome desse TED Fellow para não me confundir aqui. Myshkin Ingawale, espero que tenha acertado. (Aplausos) Eu vi os TED Fellows no meu primeiro dia aqui. Ele se levantou e explicou como havia sido levado a criar tecnologia para ajudar a diagnosticar anemia porque as pessoas morriam desnecessariamente. E ele disse, "Eu vi essa necessidade. Então sabe o que fiz? Eu a criei." E todo mundo começou a aplaudir e dizer "Muito bem!" E ele disse, "Mas não deu certo. Então eu a fiz mais 32 vezes, e aí deu certo."
Sabe qual é o grande segredo do TED? Estou louca para contar isso às pessoas. Acho que é o que estou fazendo agora. (Risos) Essa é meio que a conferência do fracasso. Não, é sim. (Aplausos) Sabe por que esse lugar é incrível? Porque aqui, muito poucas pessoas têm medo de fracassar. E ninguém que vem ao palco, que eu tenha visto, não fracassou. Já fracassei terrivelmente muitas vezes. Penso que o mundo não entende isso por causa da vergonha.
Há uma ótima citação que me salvou ano passado, de Theodore Roosevelt. Muitas pessoas se referem a ela como a citação do "Homem na Arena". E é assim: "Quem importa não é o que critica. Não é o homem que fica sentado apontando como o outro poderia ter feito melhor e como ele tropeça e cai. O crédito vai para o homem na arena cuja face está marcada por poeira, sangue e suor. Mas quando ele está na arena, na melhor das hipóteses, ele vence, e na pior, ele perde, mas quando ele fracassa, quando ele perde, ele o faz com grande ousadia."
E para mim, essa conferência é sobre isso. A vida é sobre isso, sobre ousar com grandeza, sobre estar numa arena. Quando você caminha até a arena, põe sua mão na porta, e pensa, "Vou entrar e vou tentar isso," a vergonha é o diabinho que diz, "An an". Você não é bom o bastante. Nunca terminou aquele MBA. Sua esposa o deixou. Sei que seu pai não estava em Luxemburgo, ele estava em Sing Sing. Sei daquelas coisas que aconteceram enquanto você crescia. Sei que você pensa que não é bonito o bastante ou inteligente o bastante, ou talentoso o bastante, ou poderoso o bastante. Sei que seu pai nunca prestou atenção, nem quando você conseguiu ser CFO." Vergonha é essa coisa.
E se nós conseguimos silenciá-la, entrar e dizer, "Vou fazer isso," nós procuramos e o crítico que vemos apontando e rindo, 99 porcento das vezes quem é? Nós. A vergonha passa por dois clichês -- "nunca bom o bastante" e, se você conseguir se livrar desse, "quem você pensa que é?" O que há para se entender sobre vergonha é que não é culpa. Vergonha é um foco no Eu, culpa é um foco no comportamento. Vergonha é "Eu sou ruim." Culpa é "Eu fiz algo ruim." Quantos de vocês, se fizessem algo que me magoasse, desejariam dizer, "Desculpe-me. Cometi um erro?" Quantos de vocês desejariam dizer isso? Culpa: Desculpe-me. Cometi um erro. Vergonha: Desculpe-me. Eu sou um erro.
Há uma grande diferença entre vergonha e culpa. E aqui está o que precisam saber. Vergonha está altamente correlacionada a vício, depressão, violência, agressão, bullying, suicídio, distúrbios alimentares. E aqui está o que vocês mais precisam saber. Culpa se relaciona inversamente com essas coisas. A capacidade de lidar com algo que fizemos ou que falhamos em fazer contra quem queremos ser é incrivelmente adaptável. É desconfortável, mas adaptável.
A outra coisa que precisam saber sobre a vergonha é que ela é absolutamente organizada por gênero. Se a vergonha se abate sobre mim e sobre Chris, sentiremos o mesmo. Todos que estão sentados aqui conhecem a sensação de vergonha. Estamos certos que as únicas pessoas que não experienciam vergonha são as pessoas sem capacidade de conexão ou empatia. O que significa, sim, eu sinto um pouco de vergonha; não, eu sou um sociopata. Então eu opto por, sim, você sente um pouco de vergonha. Homens e mulheres sentem vergonha do mesmo modo, mas ela é organizada por gênero.
Para as mulheres, o melhor exemplo que posso dar é Enjoli o comercial: "Consigo estender a roupa, arrumar o almoço, distribuir beijos e estar no trabalho às 8:55. Consigo comprar o bacon, fritá-lo e jamais deixá-lo esquecer que é um homem." Para as mulheres, vergonha é fazer tudo isso, fazê-lo com perfeição e nunca deixá-los as ver suadas. Não sei quantos perfumes esse comercial vendeu, mas garanto a vocês, ele movimentou um monte de anti-depressivos e ansiolíticos. (Risos) Vergonha, para as mulheres, é essa internet de expectativas inalcansáveis, contraditórias e competitivas sobre quem deveríamos ser. É uma camisa de força.
Para os homens, Vergonha não é um monte de expectativas contraditórias e competitivas. A vergonha é uma só, não ser entendido como o quê? Fraco. Não entrevistei homens nos primeiros quatro anos do meu estudo. E só o fiz quando um homem olhou para mim um dia, apó a sessão de autógrafos, e disse, "Adoro o que você diz sobre vergonha, estou curioso em saber o motivo de não mencionar homens." E eu disse, "Não estudo homens." E ele disse, "É conveniente." (Risos) E eu disse, "Por que? E ele disse, "Porque você diz para nos abrir, contar nossa história, sermos vulneráveis. Mas você vê esses livros que acabou de autografar para minha esposa e três filhas?" Eu disse, "Sim." "Elas prefeririam que eu morresse em cima de um cavalo branco do que me ver cair ao chão. Quando nos expomos e ficamos vulneráveis somos massacrados. E não me diga que isso é coisa de homens, treinadores e pais, porque as mulheres da minha vida são mais duras comigo do que qualquer um."
Então começei a entrevistar homens e fazer perguntas. E o que aprendi foi isso: Mostre-me uma mulher que consiga de fato dialogar com um homem que esteja vulnerável e receoso, e eu lhes mostrarei uma mulher que faz um trabalho incrível. Mostre-me um homem que consiga dialogar com uma mulher que está cheia, que não consegue fazer mais nada, e a primeira resposta dele não é, "Eu esvaziei a lava-louças," ao contrário, ele a ouve de verdade -- porque é tudo o que precisamos -- Mostro-lhes um cara que fez um bom trabalho.
Vergonha é uma epidemia em nossa cultura. E para conseguir sair debaixo dela, achar o caminho para nos encontrar, temos que entender como isso nos afeta e como isso afeta o modo como educamos nossos filhos, como trabalhamos, como vemos uns aos outros. Rapidamente, uma pesquisa feita por Mahalik no Boston College. Ele perguntou: O que as mulheres precisam para se adequar às normas femininas? As principais resposta neste país: ser simpática, magra, modesta e usar todos os recursos disponíveis para a aparência. Quando ele perguntou sobre homens, o que os homens neste país precisam fazer para se adequar às normas masculinas, as respostas foram: sempre mostrar controle emocional, trabalho primeiro, busca por status e violência.
Se vamos buscar um caminho para nos encontrar, temos que entender e conhecer a empatia, porque empatia é o antídoto para a vergonha. Se você colocar a vergonha numa placa de Petri, ela precisará de 3 coisas para crescer exponencialmente: sigilo, silêncio e julgamento. Se colocar igual quantidade de vergonha numa placa Petri e dosá-la com empatia, ela não sobreviverá. As duas palavras mais poderosas quando estamos em conflito: eu também.
E então eu os deixo com este pensamento. Se vamos buscar o caminho para nos encontrar, a vulnerabilidade será esse caminho. E sei que é sedutor ficar fora da arena, pois penso que fiz isso a vida toda, e penso comigo mesma, eu vou entrar lá e arrasar quando eu for à prova de balas e perfeita. E isso é sedutor. Mas a verdade é que isso jamais acontecerá. E mesmo se você ficar o mais perfeito possível e mais à prova de balas que puder, quando entrar lá, não será o que queremos ver. Queremos que você entre lá. Queremos estar com você e de frente para você. E simplesmente queremos, para nós mesmos, para quem nos importa muito e para nossos colegas de trabalho, que ousem com grandeza.
Muito obrigada a todos. Foi um grande prazer.
(Aplausos)
[Via BBA]