A experiência dos 300 de Angicos, que serviu de laboratório para demonstrar e testar o Método Paulo Freire de alfabetização de adultos, com...
A experiência dos 300 de Angicos, que serviu de laboratório para demonstrar e testar o Método Paulo Freire de alfabetização de adultos, completou 50 anos.
O ano era 1963. Sob a supervisão do educador Paulo Reglus Neves Freire a experiência, inédita no Brasil, que ficou conhecida como as 40 horas de Angicos, tinha uma meta ousada: alfabetizar adultos em 40 horas. Mas seus objetivos visavam muito mais além. De acordo com o professor doutor Éder Jofre, Paulo Freire pretendia despertar o ser político que deve ser sujeito de direito.
O método nasceu em 1962 quando Freire era diretor do Departamento de Extensões Culturais da Universidade do Recife onde formou um grupo de moças e rapazes para testar o método na cidade de Angicos/RN, onde alfabetizaria 300 de 380 adultos participantes em apenas 45 dias.
Também batiam de porta em porta indagando os moradores: - O senhor sabe ler?
Os Centros de Cultura (CC) foram se instalando nas casas, nos alpendres, cedidos pelos próprios alunos. Até no prédio da maternidade formou-se um CC. No presídio de Angicos, o CC era um espaço onde presos e soltos (familiares e soldados) formavam uma espécie de espaço de liberdade.
Em abril de 1964, veio o golpe militar. João Goulart, presidente na época, havia chamado Paulo Freire para organizar uma Campanha Nacional de Alfabetização. Essa campanha tinha como objetivo alfabetizar 2 milhões de pessoas, em 20.000 círculos de cultura, e já contava com a participação da comunidade - só no estado da Guanabara (Rio de Janeiro) se inscreveram 6.000 pessoas. Com o golpe esse projeto foi abortado. Em seu lugar surgiu o MOBRAL, uma iniciativa para a alfabetização porém distinta do método freiriano.
O golpe o surpreendeu em Brasília, onde coordenava o Plano Nacional de Alfabetização do presidente. Freire passou 70 dias na prisão antes de se exilar.
Em 1968, no Chile, escreveu seu livro mais conhecido, Pedagogia do Oprimido. Também deu aulas nos Estados Unidos e na Suíça e organizou planos de alfabetização em países africanos. Com a anistia, em 1979, voltou ao Brasil, integrando-se à vida universitária. Filiou-se ao Partido dos Trabalhadores e, entre 1989 e 1991, foi secretário municipal de Educação de São Paulo.
Em 1993, revendo o cenário de Angicos, Freire foi interpelado pela ex-aluna Maria Luiza da Silva:
- Por que o senhor foi preso?
E Freire respondeu:
- Porque vocês aprenderam demais.
Freire era formado em direito, mas nunca exerceu. Perdeu o pai, um capitão da polícia militar, aos 13 anos. Foi casado duas vezes e teve cinco filhos. Teve obras traduzidas em mais de 20 idiomas. Morreu em 1997, de enfarte.
Freire foi o mais célebre educador brasileiro, com atuação e reconhecimento internacionais. Ganhou 41 títulos de doutor honoris causa de universidades como Harvard, Cambridge e Oxford.
2. Etapa de Tematização: momento da tomada de consciência do mundo, através da análise dos significados sociais dos temas e palavras.
3. Etapa de Problematização: etapa em que o professor desafia e inspira o aluno a superar a visão mágica e acrítica do mundo, para uma postura conscientizada.
Em vez de buscar a alfabetização por meio de cartilhas e ensinar, por exemplo, “o boi baba” e “vovó viu a uva”, ele trabalhava as chamadas “palavras geradoras” a partir da realidade do cidadão. Por exemplo, um trabalhador de fábrica podia aprender “tijolo”, “cimento”, um agricultor aprenderia “cana”, “enxada”, “terra”, “colheita” etc. A partir da decodificação fonética dessas palavras, ia se construindo novas palavras e ampliando o repertório.
As palavras geradoras: o processo proposto por Paulo Freire inicia-se pelo levantamento do universo vocabular dos alunos. Através de conversas informais, o educador observa os vocábulos mais usados pelos alunos e a comunidade, e assim seleciona as palavras que servirão de base para as lições. A quantidade de palavras geradoras pode variar entre 18 a 23 palavras, aproximadamente. Depois de composto o universo das palavras geradoras, elas são apresentadas em cartazes com imagens. Então, nos círculos de cultura inicia-se uma discussão para significá-las na realidade daquela turma.
A silabação: uma vez identificadas, cada palavra geradora passa a ser estudada através da divisão silábica, semelhantemente ao método tradicional. Cada sílaba se desdobra em sua respectiva família silábica, com a mudança da vogal. (i.e., BA-BE-BI-BO-BU)
As palavras novas: o passo seguinte é a formação de palavras novas. Usando as famílias silábicas agora conhecidas, o grupo forma palavras novas.
A conscientização: um ponto fundamental do método é a discussão sobre os diversos temas surgidos a partir das palavras geradoras. Para Paulo Freire, alfabetizar não pode se restringir aos processos de codificação e decodificação. Dessa forma, o objetivo da alfabetização de adultos é promover a conscientização acerca dos problemas cotidianos, a compreensão do mundo e o conhecimento da realidade social.
1ª fase: Levantamento do universo vocabular do grupo. Nessa fase ocorrem as interações de aproximação e conhecimento mútuo, bem como a anotação das palavras da linguagem dos membros do grupo, respeitando seu linguajar típico.
2ª fase: Escolha das palavras selecionadas, seguindo os critérios de riqueza fonética, dificuldades fonéticas - numa seqüência gradativa das mais simples para as mais complexas, do comprometimento pragmático da palavra na realidade social, cultural, política do grupo e/ou sua comunidade.
3ª fase: Criação de situações existenciais características do grupo. Trata-se de situações inseridas na realidade local, que devem ser discutidas com o intuito de abrir perspectivas para a análise crítica consciente de problemas locais, regionais e nacionais.
4ª fase: Criação das fichas-roteiro que funcionam como roteiro para os debates, as quais deverão servir como subsídios, sem no entanto seguir uma prescrição rígida.
5ª fase: Criação de fichas de palavras para a decomposição das famílias fonéticas correspondentes às palavras geradoras.
Fonte: G1, Revista Escola, Wikipedia, Acervo Paulo Freire, As Quarenta Horas de Angicos - Uma experiência pioneira de educação
[Via BBA]
O ano era 1963. Sob a supervisão do educador Paulo Reglus Neves Freire a experiência, inédita no Brasil, que ficou conhecida como as 40 horas de Angicos, tinha uma meta ousada: alfabetizar adultos em 40 horas. Mas seus objetivos visavam muito mais além. De acordo com o professor doutor Éder Jofre, Paulo Freire pretendia despertar o ser político que deve ser sujeito de direito.
O método nasceu em 1962 quando Freire era diretor do Departamento de Extensões Culturais da Universidade do Recife onde formou um grupo de moças e rapazes para testar o método na cidade de Angicos/RN, onde alfabetizaria 300 de 380 adultos participantes em apenas 45 dias.
Sem espaço político administrativo em sua terra, Paulo Freire aceitou as ponderações de Odilon [Deputado Odilon Ribeiro Coutinho] e Calazans [Secretário de Educação, Calazans Fernandes]: Testar sua ideias, em larga escala, no Rio Grande do Norte. Aqui ele teria os recursos e o apoio que lhe eram negados em Pernambuco.O grupo chegou na pequena cidade anunciando em um alto-falante montado em um jipe que iriam ensinar quem quisesse, qualquer pessoa, a ler e escrever.
Carlos Lyra in As Quarenta Horas de Angicos - Uma experiência pioneira de educação
Também batiam de porta em porta indagando os moradores: - O senhor sabe ler?
Os Centros de Cultura (CC) foram se instalando nas casas, nos alpendres, cedidos pelos próprios alunos. Até no prédio da maternidade formou-se um CC. No presídio de Angicos, o CC era um espaço onde presos e soltos (familiares e soldados) formavam uma espécie de espaço de liberdade.
Noite após noite, ficaram conscientes de que a maior desgraça do homem era o atraso, a ignorância, o analfabetismo, e que lendo e escrevendo o homem vence a miséria, a fome, e até a seca.
Luiz Lobo. Jornalista. Responsável pela cobertura do projeto
Em abril de 1964, veio o golpe militar. João Goulart, presidente na época, havia chamado Paulo Freire para organizar uma Campanha Nacional de Alfabetização. Essa campanha tinha como objetivo alfabetizar 2 milhões de pessoas, em 20.000 círculos de cultura, e já contava com a participação da comunidade - só no estado da Guanabara (Rio de Janeiro) se inscreveram 6.000 pessoas. Com o golpe esse projeto foi abortado. Em seu lugar surgiu o MOBRAL, uma iniciativa para a alfabetização porém distinta do método freiriano.
Havia uma informação que meu nome estava em evidência. Não resisti. Temeroso fui observar, no pavilhão que a prefeitura construíra na praça André Albuquerque, junto ao Palácio do Governo do Estado, o "material subversivo" apreendido. Em destaque, em uma bancada no centro da exposição, este trabalho, "A Experiência de Angicos", ladeado pelo O Capital, de Karl Marx, e Recordação da Casa dos Mortos, de Dostoievsky...
Carlos Lyra
O golpe o surpreendeu em Brasília, onde coordenava o Plano Nacional de Alfabetização do presidente. Freire passou 70 dias na prisão antes de se exilar.
Em 1968, no Chile, escreveu seu livro mais conhecido, Pedagogia do Oprimido. Também deu aulas nos Estados Unidos e na Suíça e organizou planos de alfabetização em países africanos. Com a anistia, em 1979, voltou ao Brasil, integrando-se à vida universitária. Filiou-se ao Partido dos Trabalhadores e, entre 1989 e 1991, foi secretário municipal de Educação de São Paulo.
Em 1993, revendo o cenário de Angicos, Freire foi interpelado pela ex-aluna Maria Luiza da Silva:
Gravura usada nas 40 horas de Angicos |
- Por que o senhor foi preso?
E Freire respondeu:
- Porque vocês aprenderam demais.
Freire era formado em direito, mas nunca exerceu. Perdeu o pai, um capitão da polícia militar, aos 13 anos. Foi casado duas vezes e teve cinco filhos. Teve obras traduzidas em mais de 20 idiomas. Morreu em 1997, de enfarte.
Freire foi o mais célebre educador brasileiro, com atuação e reconhecimento internacionais. Ganhou 41 títulos de doutor honoris causa de universidades como Harvard, Cambridge e Oxford.
Etapas do método:
1. Etapa de Investigação: busca conjunta entre professor e aluno das palavras e temas mais significativos da vida do aluno, dentro de seu universo vocabular e da comunidade onde ele vive.2. Etapa de Tematização: momento da tomada de consciência do mundo, através da análise dos significados sociais dos temas e palavras.
3. Etapa de Problematização: etapa em que o professor desafia e inspira o aluno a superar a visão mágica e acrítica do mundo, para uma postura conscientizada.
A palavra 'tijolo' fez parte do universo vocabular trabalhado em Angicos. Era uma palavra que fazia parte do cotidiano dessas pessoas. Mas não era só ensinar a escrever tijolo, tinha também a questão social e política. Era questionado: você trabalha na construção de casas, mas você tem uma casa própria? Por que não tem? Levava o cidadão a pensar nessas questões.
Éder Jofre. Doutor no método Paulo Freire.
O Método
Freire condenava o ensino oferecido pela ampla maioria das escolas (isto é, as "escolas burguesas"), que ele qualificou de educação bancária. Nela, segundo Freire, o professor age como quem deposita conhecimento num aluno apenas receptivo, dócil. Em outras palavras, o saber é visto como uma doação dos que se julgam seus detentores. Trata-se, para Freire, de uma escola alienante, mas não menos ideologizada do que a que ele propunha para despertar a consciência dos oprimidos.Em vez de buscar a alfabetização por meio de cartilhas e ensinar, por exemplo, “o boi baba” e “vovó viu a uva”, ele trabalhava as chamadas “palavras geradoras” a partir da realidade do cidadão. Por exemplo, um trabalhador de fábrica podia aprender “tijolo”, “cimento”, um agricultor aprenderia “cana”, “enxada”, “terra”, “colheita” etc. A partir da decodificação fonética dessas palavras, ia se construindo novas palavras e ampliando o repertório.
As palavras geradoras: o processo proposto por Paulo Freire inicia-se pelo levantamento do universo vocabular dos alunos. Através de conversas informais, o educador observa os vocábulos mais usados pelos alunos e a comunidade, e assim seleciona as palavras que servirão de base para as lições. A quantidade de palavras geradoras pode variar entre 18 a 23 palavras, aproximadamente. Depois de composto o universo das palavras geradoras, elas são apresentadas em cartazes com imagens. Então, nos círculos de cultura inicia-se uma discussão para significá-las na realidade daquela turma.
A silabação: uma vez identificadas, cada palavra geradora passa a ser estudada através da divisão silábica, semelhantemente ao método tradicional. Cada sílaba se desdobra em sua respectiva família silábica, com a mudança da vogal. (i.e., BA-BE-BI-BO-BU)
As palavras novas: o passo seguinte é a formação de palavras novas. Usando as famílias silábicas agora conhecidas, o grupo forma palavras novas.
A conscientização: um ponto fundamental do método é a discussão sobre os diversos temas surgidos a partir das palavras geradoras. Para Paulo Freire, alfabetizar não pode se restringir aos processos de codificação e decodificação. Dessa forma, o objetivo da alfabetização de adultos é promover a conscientização acerca dos problemas cotidianos, a compreensão do mundo e o conhecimento da realidade social.
As fases de aplicação do método
Freire propõe a aplicação de seu método nas cinco fases seguintes:21ª fase: Levantamento do universo vocabular do grupo. Nessa fase ocorrem as interações de aproximação e conhecimento mútuo, bem como a anotação das palavras da linguagem dos membros do grupo, respeitando seu linguajar típico.
2ª fase: Escolha das palavras selecionadas, seguindo os critérios de riqueza fonética, dificuldades fonéticas - numa seqüência gradativa das mais simples para as mais complexas, do comprometimento pragmático da palavra na realidade social, cultural, política do grupo e/ou sua comunidade.
3ª fase: Criação de situações existenciais características do grupo. Trata-se de situações inseridas na realidade local, que devem ser discutidas com o intuito de abrir perspectivas para a análise crítica consciente de problemas locais, regionais e nacionais.
4ª fase: Criação das fichas-roteiro que funcionam como roteiro para os debates, as quais deverão servir como subsídios, sem no entanto seguir uma prescrição rígida.
5ª fase: Criação de fichas de palavras para a decomposição das famílias fonéticas correspondentes às palavras geradoras.
Fonte: G1, Revista Escola, Wikipedia, Acervo Paulo Freire, As Quarenta Horas de Angicos - Uma experiência pioneira de educação
[Via BBA]