Walter Isaacson: o biógrafo de Steve Jobs no Roda Viva

Biógrafo de Steve Jobs, que também já escreveu sobre personalidades como Albert Einstein e Benjamin Franklin, fala do livro sobre o gênio da...

Biógrafo de Steve Jobs, que também já escreveu sobre personalidades como Albert Einstein e Benjamin Franklin, fala do livro sobre o gênio da Apple e da criação do Vale do Silício, entre outros assuntos.

O livro vendeu 120 mil exemplares no Brasil, mais de 5 milhões nos EUA, cerca de 2 milhões na China e acima de 10 milhões no mundo todo.



- O livro em certos aspectos é muito crítico ao Steve Jobs. Conta tudo o que aconteceu com ele. Como é que você fez para manter uma relação com ele, mesmo tendo todas essas críticas, e como é que ele era? Eu tenho a impressão que ele era, em muitos aspectos, um chato. Um sujeito obsessivo. Um sujeito maníaco. Bruto. Tratava mal as pessoas. Qual foi sua relação com ele e qual sua opinião sobre ele como figura humana?

- Ele era muito emotivo, muito intenso. Mas isso deve ser visto juntamente com a paixão dele pelos produtos que ele criava.

O interessante para mim são as lições de como ele inovou, como se concentrava nas coisas.

Eu o achava sentimental, como disse.

Às vezes conversávamos e ele tinha lágrimas nos olhos. Mas se olharmos para os produtos da Apple, vemos essa emoção nos seus produtos. Portanto, sim, ele era intenso e, às vezes, rude. Mas essa não é a história do Steve.

A história é que sua inquietação era parte da paixão pelos produtos que ele criava. Ele era muito focado e capaz de simplificar as coisas. E ele era duro com as pessoas, mas as levava a fazer coisas que elas julgavam impossíveis. Ele as fazia crer que você era capaz de fazer coisas que você jamais julgara possível. E, às vezes, ele era duro. Mas as pessoas faziam coisas que não acreditavam ser capazes de fazer. Portanto, e preciso julgálo pelos resultados. Talvez ele fosse chato por vezes. Mas os que gostavam de trabalhar com ele, eram extremamente leais. Pois ele era carismático, inspirador e teve um grupo de pessoas leais com ele, drante toda sua carreira.

- E com você? Ele era um sujeito bruto, afável... Você considerava ele um amigo ou um sujeito de biografia?

- Era muito difícil, porque me liguei a ele. E como jornalista, você sabe, tentamos nos distanciar, ser objetivos. Em especial quando ele ficou doente; eu me importava com ele. Eu o respeitava e admirava. E, em geral, ele era muito gentil comigo. Ele conseguiu ser encantador e também rude, algumas vezes. Uma das vezes ele ficou enfurecido ao ver a capa proposta para o livro e disse que ela era horrível. Ela tinha uma maçã e a fotografia dele. "Essa é a pior coisa que já vi", ele disse usando outro linguajar.

Eu não vou mais colaborar com você porque isso [a capa do livro] é medonho.

E ele finalmente disse: "Eu só vou continuar colaborarando com você se permitir participar da escolha da capa". Eu disse: "Sim. É claro".

Ele tinha um grande olho para o design. E ele ajudou a criar a capa do livro.

No geral, tínhamos um bom relacionamento. Mas eu o vi sendo duro com as pessoas. Quando o conheci, em 1984, ele levou o Macintosh para a revista Time, onde eu trabalhava. E nos mostrou a beleza do design, da interface do usuário, ele estava comovido com aquilo. Mas também ficou bravo com a Time, disse que éamos uma revista horrível, porque não havíamos o escolhido como homem do ano.

- Alguma vez ele fez alguma restrição ao que você poderia escrever?
- Ele leu o seu livro inteiro?

- Não. Ele disse, já pouco antes de morrer, o que havia dito no início:

Este é o seu livro, não vou tentar controlá-lo.

"Não vou nem ao menos ler o livro. Por que se eu o ler, vou tentar controlá-lo." E esse foi o nosso trato. E isso é incomum, porque ele era controlador. Mas ele dizia:"Quero que esse seja um livro independente. Não quero que pareça um livro inhouse. Sou franco com as pessoas, quero que você seja honesto sobre mim".

E da última vez que o vi, pouco antes de sua morte, ele estava em seu quarto, olhou para mim e disse:

Há coisas neste livro que eu não vou gostar, certo?

E eu disse: "Sim. Há coisas que você não irá gostar". Ele disse: "Bom. Não vou ler antes que seja impresso, pois não quero me indispor com você. Mas quero que seja um livro honesto". E disse: "Vou ler daqui um ano". E eu pensei - oh, talvez ele viva mais um ano. porque ele tinha esse jeito de fazê-lo acreditar nas coisas. Mas ele nunca leu o livro. E ele queria algo independente.

- Walter, ele morreu, não leu o livro inteiro, falta nesse livro as últimas palavras dele. Você pode nos dizer quais foram?

- Estávamos no jardim da casa dele, em Palo Alto, pouco antes de sua morte, e conversamos ao longo dos anos sobre espiritualidade, como ele havia buscado o Zen-budismo, e lhe perguntei o que ele achava de Deus e espiritualidade, naquele momento ele disse:

Você sabe, às vezes eu creio em um Deus, acredito em um espírito, em algo mais além do que vemos. E talvez devido ao meu Zen-budismo, eu gosto de crer que algo permanece depois da morte. Que a sabedoria que você acumulou permanece.

E então ele parou e disse:

Talvez seja apenas como um botão liga/desliga. Você morre, aperta o botão, e deixa de existir.

E então ele parou por um momento, sorriu e disse:

Por isso eu nunca gostei de usar tais botões nos dispositivos da Apple.

Ethevaldo Siqueira: - (...)Que facilidade você tinha, que amizade você desenvolveu para poder fazer uma biografia como essa que deve ter tipo muitas horas de conversação com o próprio Steve Jobs?

- Sim, e me surpreendeu o fato de que ele se abrisse tanto. porque ele é muito controlador e muito reservado. Eu o conheci em 1984, como disse, quando lançou o Macintosh. E em 2004 ele me telefonou. Eu tinha escrito uma biografia de Benjamin Franklin e estava terminando uma sobre Albert Einstein. E ele disse:

Por que não escreve uma biografia sobre mim agora?

E eu pensei: "Ora, isso é um tanto arrogante. Você sabe, Franklin, Einstein e agora você, Steve!" Eu não sabia que ele estava doente. E eu disse: "Talvez daqui a 20, 30 anos, quando você se aposentar. Eu farei isso."

Mas, nos 2 ou 3 anos seguintes, eu me dei conta do quanto ele estava doente. E também o quanto ele havia transformado tantas indústrias - computadores pessoais, animação gerada por computador, música, lojas, jornalismo, tablets. E percebi as lições de negócios ali, em sua criatividade e inovação. Quando começamos, dávamos longas caminhadas e conversávamos.

- Por que você acha que ele te escolheu para ser seu biógrafo?

- Eu perguntei a ele. Ele disse que era porque eu era jornalista e gostava de escrever sobre história. E mexer com arquivos, fatos históricos. Porque eu levava as pessoas a falar. Isso me surpreendeu, porque eu achei que ele não gostaria que as pessoas falassem dele. Mas ele queria que fosse um jornalista, eu não sei, ele poderia ter pedido para qualquer pessoa.

- Mas vocês eram próximos?

- Não muito. A gente se falava duas ou três vezes por ano. Quando eu era editor da revista Time. Você sabe. Talvez duas ou três vezes por ano eu era seu melhor amigo, porque ele me ligava e me dizia:

Tenho esse novo produto e a Newsweek nunca vai entender isso, mas a Time vai.

Ele me levava para jantar e eu só teria notícia dele depois da publicação da matéria. Eu o conhecia um pouco, mas não muito bem.

Todd Benson: - (...) O que mais te surpreendeu sobre a vida dele?

- Acho que a sentimentalidade. Conversávamos sobre o Macintosh, ou até sobre a propaganda "pense diferente", ou sobre sua esposa, e de repente, ele tinha os olhos marejados. De início fiquei surpreso. E então percebi que a emotividade era parte de sua intensidade. E estava em tudo o que ele fazia. Por exemplo, na caixa onde você tem o seu iPod, ou iPad. E ele tem uma patente de design ali. Porque ele queria que fosse uma experiência emocional. E não como se você abrisse um telefone da Samsung ou coisa do tipo. Ele queria a emoção. E aquela emoção foi o que mais me surpreendeu.

- E ele chegou a falar muito da rivalidade com bill Gates?

- Eles eram como estrelas binárias. Estrelas que circundam uma a outra. Pegas no campo gravitacional. Bill Gates tinha sua estrela, escrevendo software, principalmente para a Apple também, no início. Mas, então, ele usou a interface gráfica do Macintosh e fez o Windows. Aquilo deixou o Steve maluco. Você sabe, Steve o processou. E não só isso. bill Gates tinha outra filosofia. Ele licenciava o software do Windows para qualquer um que produzisse equipamentos - IBM, Compaq, HP.

Steve Jobs era controlador. Se você quisesse seu software teria de adquirir seu hardware - sempre integrados.

São duas abordagens da era digital. A fechada, integrada, e a abordagem aberta, a partir de licenças.

Em 1997, quando Steve voltou para a Apple, uma das primeiras ligações foi para Bill Gates. E ele disse: "Vamos resolver nossas ações judiciais, preciso que comece a escrever um ótimo software para o Macintosh. E Bill Gates fez. E pouco antes de morrer, no verão passado, Bill Gates quis visitar Steve. Ele sabia que Steve estava doente. E Steve teve objeções, de início. Mas, finalmente, Bill Gates foi até sua casa, em Palo Alto, bateu na porta, e eles conversaram por três horas sobre suas rivalidades, e também como aquilo os unia. No final, Bill Gates disse algo legal - que achara que o modelo integrado nunca funcionaria, mas que Steve provara que sim.
E Steve disse também: "E você provou que o seu modelo pode funcionar". Perguntei ao Steve sobre colocar aquilo no final do livro e ele disse:

Eu disse que os modelos deles funcionam, mas só se você não se importar de fazer produtos ruins, porque é isso que ele faz, porcarias.

Portanto, havia amizade, rivalidade, ódios, vemos isso em negócios o tempo todo.

Caio Túlio Costa: - (...) Eu vi nas redes sociais, no twitter, nos blogs, alguns fãs da Apple reclamando um pouco disso. Dá para você falar um pouco desse lado paradoxal, nós temos quase que uma espécie de gênio Zen de um lado e um sujeito totalmente detalhista, irascível, e algumas vezes mentiroso, roubando ideia dos outros. Isso aparece um pouco no seu livro também. Fale um pouco desse outro lado do Steve Jobs.

- Eu admirava Steve Jobs, e eu tinha que ser honesto. Havia momentos que ele era maluco, ou não se encaixava, era um rebelde.

Não creio que ele tenha de fato mentido, porque, Às vezes, havia uma distorção da realidade. Mas ele acreditava no que ele estava dizendo.

Sua distorção da realidade era tão grande que ele acreditava naquilo. Portanto, tentei ser muito justo com ele. Alguns poderiam dizer que eu fui muito duro, mas Steve Jobs sabia que ele era assim.

Eu lhe perguntava: "Por que você é tão duro às vezes?" Ele dizia:"É assim que eu sou".

"Eu espero honestidade de todos com quem trabalho e sou honesto com eles. Se alguma coisa é ruim, eu digo que é". E às vezes usaria um linguajar mais pesado. "Mas é assim que trabalhamos". Talvez eu o retrate como um tanto louco. Ele adorava aquela frase dele ao final da propaganda "pense diferente". "Aqueles que são loucos o bastante para acreditar que podem mudar o mundo, são os que de fato o mudam". portanto eu tentei juntar tudo isso. E eu não acho que tenha sido muito duro, pois realmente o admiro. Acho que sua loucura era parte do que o tornou bem sucedido.

Paula Leite: - Eu me surpreendi um pouco com o livro justamente por causa dessas características que não têm mais pessoas que falem que realmente odiavam ele. Essas pessoas existem ou ele acabou se reconciliando com elas em vida. Como você vê isso?

- Tudo que está no livro está registrado. E como jornalista você sabe que, às vezes, as pessoas dizem coisas ruins e querem fazê-lo em off. E eu dizia: "Não. Você trabalhou com Steve. Você sabe que ele gostava de honestidade. Portanto, todas as histórias, de quando ele ficava furioso com alguém, ou quando dizia a Steve Wozniak: "Você pode fazer isso". E Wozniak diria: "Não posso". E Steve:"Mas você tem que fazer". E não era inteiramente verdade, mas então Wozniak fazia. Ele escreveria um software em 4 dias ou faria alguma coisa melhor. Portanto, todas as histórias no livro, são das pessoas que admiravam Steve Jobs. Eu tentei não usar citações anônimas, ou de pessoas que diziam coisas ruins nos bastidores. Eu dizia: "Olha, se você vai me dizer algo, tenha coragem, como ele teria, de ser honesto". E olhando diretamente para as pessoas.

Paula Leite: - Mas você acha então que têm pessoas que ficaram intimidadas pela figura dele de falar certas coisas?

Bem, ele intimidava as pessoas. Mas as pessoas foram honestas. Se você fizer uma perguntas às pessoas e as ouvir... Até mesmo pessoas que gostavam muito dele. Como Jony Ive, o grande designer industrial, que projetaria um belo cenário como este... Mas, Jony Ive foi muito honesto com ele. Sobre as coisas que gostava e que não gostava.

- Qual era a importância maior de Steve Jobs?

- Acho que a coisa mais importante que ele fez foi conectar criatividade - arte, beleza e imaginação - e tecnologia. Não se vê isso em Bill Gates ou em muitos tecnólogos.

(...)

Eu lhe perguntei: "Qual o seu produto mais importante?" (...) Ele disse: "Apple. A companhia".

Porque as pessoas criam produtos o tempo todo. Produtos chegam e vão embora. Mas o importante é criar um lugar no qual as pessoas possam usar sua imaginação e usá-la para a criação.

(...)

Ethevaldo Siqueira: - Você o compararia a outros homens que revolucionaram a indústria como Graham Bell, Thomas Edson e Henry Ford?

- Sem dúvida. Quando ele morreu as pessoas o comparavam a Leonardo da Vinci, Michelangelo. Talvez houvesse um certo exagero. Mas ele criou empresas, assim como Edison com a General Electric, e Walt Disney, com a Disney, cuja a principal característica era a imaginação aplicada à tecnologia e aos negócios.

(...)

Falamos da loucura de Jobs, mas Edison também era assim. Mas não nos lembramos disso. E sim da criatividade e inventividade de Edison.



Ethevaldo Siqueira: O que vai acontecer com a Apple sem Steve jobs?

- Eu brinco que onde quer que eu vá as pessoas me perguntam as mesmas coisas de formas diferentes. "Devo ou não vender minhas ações da Apple"? Acho que a Apple está imbuída da criatividade de Jobs. Tim Cook, Jony Ive, Scott Forstall, Phil Schiller. Eles têm isso. E acho que a Apple vai continuar a criar coisas geniais.

(...)

Carlos Eduardo Lins da Silva: - Fox News mudou um pouco a história do jornalismo nos EUA ao se colocar de uma forma tão partisan para direita. A MSNBC reagiu e se colocou um pouco mais à esquerda. A CNN se manteve imparcial e aparentemente perdeu muito espaço. Uma pergunta e uma opinião: Você acha que há espaço para o jornalismo apartidário?

- Eu acho que a Fox e MSNBC, diferentes blogs e jornais, todos servem a um propósito e é melhor termos uma grande gama de opiniões. Costumávamos ter três redes de TV nos EUA, todas muito parecidas; e Walter Cronkite encerraria o noticiário com "That´s the way it is". Acho melhor que tenhamos um espectro de opiniões e que as pessoas naveguem e colham posicionamentos distintos(...) Acho que a CNN está muito bem. (...) Sim, sempre haverá espaço.

Sobre o trabalho atual de Walter Isaacson, o Aspen Institute.

- O Aspen Institute tenta ser um centro de união. Com os EUA se tornando tão polarizado,
sabemos que para a maioria dos problemas há uma solução sensata. E tentamos ser um think tank não partidário em busca dessa solução.

Fazemos também treinamentos de lideranças para jovens líderes ao redor do mundo. Temos iniciativas no Brasil - um do motivos de eu estar aqui - temos iniciativas no Oriente Médio.

Reunimos líders de todo o mundo e dizemos: "Eis os valores básicos. Estudem isso e vamos ver como trabalhamos juntos".

Sobre a situação polarização política atual dos EUA

Quando Albert Einstein, no início dos anos 50, já com homem idoso, vê Joseph McCarthy e a polarização naquele momento, ele escreve a seu filho: "Já vi isso antes". Isso aconteceu na Alemanha nazista, aconteceu no comunismo.

Alguns anos depois McCarthy se foi, Eisenhower se livrou dele. E Einstein diz: "Há algo de mágico no Estados Unidos". É como um giroscópio, quando se acha que vai cair ele se levanta de novo.

Acho que há algo de mágico na democracia de um modo geral. Que funciona aqui no Brasil, que funciona nos EUA. É preciso lembrar que quatro anos atrás, ambos os partidos indicaram a pessoa mais ao centro, de certa forma. Barack Obama, que conseguia circular por vários meios, e John McCain.

Sobre Barack Obama

Eu admiro Brack Obama. Eu o Acho muito inteligente. Ele enfrenta momentos difíceis com a economia, daí a polarização. (...) Não faço parte de um partido, eu me defino como independente, admiro muitos republicanos também.

Sobre trabalhar para o governo

Trabalhar para o governo é muito difícil. Há uma certa burocracia, não se consegue fazer as coisas acontecerem. Você volta para o Aspen Institute e diz: "Eu quero que isso seja feito" e a coisa acontece.

Mas, no governo, isso nunca parece ocorrer. Portanto é um pouco frustrante.

Sobre o papel da rádio Voice of America sem a Guerra Fria

- Voice of America, Radio for Europe, Radio for Asia, têm um papel muito importante. Temos que convir que a maioria dos países não é como o Brasil, onde se tem todas as pessoas em uma sala, como aqui, de diferentes empresas jornalísticas. E acho que a internet nos ajuda. Se você estivesse criando a Voz da America, você diria: "Vamos criar a Internet", onde todos possam discutir e ter livre fluxo de informações.

(...)

Acho que hoje há muitos lugares, até mesmo a China, onde é muito útil poder ouvir um outro lado da história.

Sobre se a Imprensa perde espaço ante aos blogs, mídias sociais...

- Acho que o modelo de negócio da imprensa tradicional foi um tanto minado, quando tudo na Internet parece ser gratuito. Em segundo lugar, há os blogs, e quem está meramente expressando uma opinião, e não dando notícias. E há algo de bom nisso.

É melhor que várias pessoas expressem suas opiniões, do que ficarem passivamente em casa diante da TV, acreditando em tudo que ouvem.

Contudo, acho que as pessoas se dão conta de que não se consegue notícias em muitos dos blogs. Elas precisam buscar notícias com quem envia repórteres para apurar os fatos, para cobrir os acontecimentos.

Acho que vemos as pessoas lendo os blogs um pouco menos. Deve haver mais pessoas escrevendo blogs do que lendo blogs hoje em dia.

(...)

O que é mais importante? Credibilidade, confiança.

Lembro que 5 anos atrás, conversando com alguns jovens, perguntei onde liam as notícias e eles disseram que no Google. E perguntei:

Quem o Google enviou para cobrir o Afeganistão ou a Copa do Mundo?

E eles olharam para mim meio confusos.



- Quando era pequeno meu tio me dizia haver dois tipos de pessoas na Luisiana: pregadores e contadores de histórias.

Seja um contador de histórias, o mundo tem pregadores demais.

Sobre a propriedade intelectual

- Há 400 anos, desde o estatuto de Anne, na Inglaterra, podemos criar livros, música, arte, peças, propriedade intelectual e copiá-los; temos os direitos autorais.

E a pessoa que escreveu tem direito de ter lucro com aquilo. E acho que precisamos preservar isso na esfera digital.

(...)

Acho que Steve Jobs acreditava nisso fortemente. E por isso, com o iPod, fez com que fosse tão fácil o acesso às músicas, legalmente, por 99 cents, e dificultou o roubo das músicas.

E disse - "Não se deve roubar música". O mesmo com o iPad. Ele fez com que fosse fácil pagar pequenas quantias para se ter revistas, jornais e livros online. Portante acho que as coisas estão melhorando.

Sobre as origens de Steve Jobs

- Eu tento contar uma história. Por exemplo, a história de ele ter sido dado para adoção ao nascer. De ser adotado. De descobrir que era adotado. Descobrir sua mãe biológica, sua irmã.

Tudo isso moldou sua personalidade, a necessidade de controle, o sentimento de que ele era especial.

Que ele fora abandonado. Deixei que ele falasse sobre isso. Mas deixo que outras pessoas façam a análise. O que eu trouxe para o livro foi a história que ouvi dele. A que me foi contada por 150 pessoas com quem conversei. E que contei de uma forma objetiva.

Sobre como o biógrafo pode se distanciar do personagem que se está biografando

Essa é uma boa questão e eu de fato me senti muito ligado a ele. Se você ouviu as perguntas aqui essa noite, as pessoas disseram que fui duro, que mostrei que ele era rude com as pessoas. (...) Você é um ser humano, você acredita nas pessoas; mas é preciso manter a objetividade. (...) Tentei fazer o melhor que pude e deixo que o leitor julgue isso.

Sobre as críticas que deixavam Jobs furioso

Ele dizia: Vou transformar mais a educação com o iPad, do que Bill Gates com sua filantropia.

- Será que qualquer pessoa, chega em uma situação de tragédia humanitária e pode se dar ao luxo de fazer uma declaração como essa: "Eu vou continuar trabalhando aqui nos meus produtos que isso vai fazer mais bem para as pessoas do que eu sair daqui e ajudar a quem está passando por problemas sérios".

- Veja. Cada um deve decidir quais os valores que norteiam sua vida. Ele queria criar produtos incríveis e uma empresa que continuasse a criar produtos incríveis. A mulher dele é uma grande filantropa, e doa dinheiro e tempo ajudando com a reforma da educação.

Sobre a decisão de Jobs fazer terapias alternativas

- Há um momento dramático no seu livro. Ele faz os exames e sabe que tem câncer no pâncreas. Os médicos falam que precisa ser operado imediatamente. Ele fala: "Não, vou fazer dietas". E fica 9 meses sem ser operado e aí o câncer se espalha e ele fica em uma situação muito pior.

Para um homem que você qualifica de gênio. Isso é uma burrice? Ou é distorção da realidade?

- Acho que houve uma distorção da realidade. Mas é preciso entender, e tento mostra isso no livro, os dois lados de Steve.

Essas regras não se aplicam a mim.

A rebeldia, o não enquadrar-se. A questão hippie, romântica. E há o tecnólogo teimoso, pragmático, voltado para os negócios. São duas facetas da sua personalidade. E que quase sempre se unem para criar... o Macintosh. Algo da contra-cultura, mas também um genial dispositivo de tecnologia. E o mesmo aconteceu com seu tratamento do câncer.

Ao ser diagnosticado ele leva muito tempo pensando que aquelas regras não se aplicam a ele. Vem a distorção da realidade: "Talvez eu consiga tratar disso com dietas" à maneira da romântica contra-cultura hippie. Mas ele também buscou o sequenciamento genético, a codificação de DNA do seu câncer, o sequenciamento do seu próprio DNA, a terapia molecular... Ele foi praticamente aos dois extremos. Infelizmente leva algum tempo para os dois extremos se unirem. Se ele tivesse sido operado antes o câncer não teria se espalhado? Ele não sabia, eu não sei, seus médicos não sabem. O câncer entra em metástase de formas misteriosas. Acho que ele se arrependeu. Ele era controlador. Ele não queria seu corpo submetido a cirurgia.

Certamente eu não acho que se deva tratar câncer com dietas. E deixei isso claro no livro.



Sobre ser rico

- Não, eu não sou rico. as pessoas estão comprando o livro pelo Steve jobs, não se trata de mim. (...) Certamente, não espero viver como alguém rico. (...) E Steve Jobs era assim. Ele tinha todo aquele dinheiro e morva em uma casa comum. Jantava com os filhos toda noite, ao redor de uma mesa de madeira na cozinha; não tinha casa de férias. Ele não tinha casa de férias. (...) Não tinha carros e motoristas. (...) Ele não fazia aquilo por dinheiro.

Sobre as condições de trabalho na fábrica chinesa da Apple (Fábrica que teve muitos casos de suicídio de operários).

- O Steve Jobs sabia das condições de trabalho que existiam na Foxconn, na China? Que era uma espécie de trabalho escravo, muito mal pago. Ele sabia que era assim?

- Creio, como já disse, que sua habilidade de focar também incluía a capacidade de deixar de lado coisas que ele sentia que não eram importantes. Que eram distrações e ele as ignorava. Talvez a questão do câncer, por certo tempo. "Não vou tratar disso agora. Tenho outras coisas nas quais focar". Como eu disse, eu admiro a Apple, e Tim Cook, por tratarem disso agora. Mas Steve Jobs não o fez. Ele era assim.

Um conselho para um jornalista que estivesse começando hoje

Vá para um lugar interessante.

Sobre a necessidade do jornalista cursar uma faculdade de jornalismo

Acho que é útil conhecer bem alguns tópicos, e não necessariamente ir para uma escola de jornalismo. Mas estudar economia, estudar história, gostar de literatura. Aprender sobre assuntos internacionais. Estudar ciências. Acho que poucos jornalistas entendem física, ou tecnologia. Eles não sabem o que um transistor realmente faz e quantos transistores existem em um microchip. Esse é o tipo de coisa que se deve saber como jornalista e que se deve aprender na faculdade.

[Via BBA]

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