Agosto, aniversário do nascimento de Cora Cora Coralina Quem é essa missionária que percorreu esses brasis?... Que divindade é essa que perp...
Agosto, aniversário do nascimento de Cora
Cora Coralina
Quem é essa missionária que percorreu esses brasis?...
Que divindade é essa que perpassou os séculos?...
Quem é essa minerva que todos pararam para ouvir?...
Quem é a poetisa capaz de despertar emoções tão grandes em tantas gerações?...
Quem é essa bem amada de todas as camadas sociais?...
É Cora-Coralina, estela mor da poesia goiana.
A expressão mais bela e perfeita da arte do tempo. Sim, nela encontramos o resultado de pacientes e divinas pinceladas dadas uma hoje, outra amanhã, outra um mês, um ano, uma década depois. Arte que o tempo gerou em longuíssima gestação e não poupou meios, matéria, ambientes, nem emoções para a obtenção do sonhado fruto.
Assim, o tempo mesmo quis ser tintas, pincel e cinzel. Para forja, para estufa, para torno usou épocas, pessoas, labores, ambientes e a expôs às mais complexas e variadas emoções.
Ante a possibilidade de que as causas externas projetadas no amálgama incipiente que era ela tivessem efeitos imprevisíveis, o tempo pediu a Deus que a prouvesse de uma alma tal que, mesmo encarnada, transcendesse sempre aos sentimentos humanos. E essa transcendência fazia os sofreres mais sofridos, as dores mais doídas, a solidão mais solitária; intensificava as angústias, engrossava as lágrimas, tornava mais incontidos os soluços. Mas, a mesma transcendência a fazia ir lentamente captando ensinamentos nos fatos, nos erros, nas opressões, nos desprezos. A mesma transcendência a fazia entender, compreender, e, ao invés de acumular mágoas, ter desabrochado, no lugar de cada uma, um embrião de sensibilidade.
Não sei precisar se o tempo, na laboriosa faina de a compor, andou tendo dúvidas, ou se trabalhou sempre seguindo o mesmo plano.
O mais provável é que ela tenha influenciado o processo, condicionando o seu criador, o qual, diante de cada esboço concluído, iniciava o seguinte dentro da inspiração inicial, mas sofrendo naturais influências do que tinha diante de si.
E pela vida afora o tempo a foi fazendo.
Deu-lhe têmpera no trabalho árduo, nas contradições, nas incompreensões, nos sofrimentos vários.
Burilou-a na escola primária da mestra inesquecível, no gosto pela leitura, nas convivências, nas tantas vivências.
Preparou-a. Aguçou-lhe a sensibilidade. Aprimorou-lhe as faculdades intelectuais...
Na atmosfera da Capital Velha, berço da cultura de Goiás, deixou-a exposta longos e importantes anos para que reunisse em si, os elementos que lhe facultassem extrair de outras vivências, das andanças, das viagens, das novas moradas; ensinamentos, beleza, poesia e também a capacitassem, a, em qualquer lugar ou circunstância, ser incansável e produtiva.
Como seu criador inspirava-se na Aninha de hoje para criar a Cora de amanhã, ela nunca atingiu o estágio final. Todo o dia o tempo a fazia uma nova Cora Coralina.
E, do burilar contínuo, dos retoques do pincel, do constante recriar é que tivemos a menina inzoneira, chorona, sabida demais; a moça bonita, metamorfose da menina feia; a doceira; a mulher decidida, trabalhadeira, criativa e finalmente, para que vislumbrássemos um pouco de seu incalculável conteúdo, para que a compreendêssemos mesmo sem sermos capazes de segui-la em seu constante aperfeiçoamento; a revelou na poesia.
E a poetisa surgiu com toda a força de um saber acumulado desde o século passado, com o prodígio de uma memória capaz de lembrar detalhes mínimos dos mais antigos fatos, de objetos já consumidos, de pessoas já há longos anos idas...
E a poetisa veio com um vocabulário tão belo, tão rico, tão elegante...
E a poetisa nos encanta com uma tão aguda sensibilidade frente à complexidade do contexto social, diante da simplicidade das pessoas simples, da natureza, dos objetos; encanta-nos enfim, pela bela, perfeita e sutilíssima visão que nos deu da vida.
Cora Coralina, amada das gentes, dos intelectuais, de todos quantos já a ouviram ou leram seu poemas.
Deusa que extravasou a sua sensibilidade, encantando os outros.
Musa que na beleza de sua figura de anciã seguia inspirando tantas expressões de afeto e admiração.
Que o tempo, seu criador, continue apaixonado pela obra que criou e siga a recriá-la sempre, todos os dias, para que outras gerações tenham também o privilégio de conhecê-la, pelos testemunhos, por sua obra de extrema beleza e sensibilidade, pelo seu saber e pelo exemplo de vida que deixou.
22.10.l983 -- Rilmar
Cora Coralina
Quem é essa missionária que percorreu esses brasis?...
Que divindade é essa que perpassou os séculos?...
Quem é essa minerva que todos pararam para ouvir?...
Quem é a poetisa capaz de despertar emoções tão grandes em tantas gerações?...
Quem é essa bem amada de todas as camadas sociais?...
É Cora-Coralina, estela mor da poesia goiana.
A expressão mais bela e perfeita da arte do tempo. Sim, nela encontramos o resultado de pacientes e divinas pinceladas dadas uma hoje, outra amanhã, outra um mês, um ano, uma década depois. Arte que o tempo gerou em longuíssima gestação e não poupou meios, matéria, ambientes, nem emoções para a obtenção do sonhado fruto.
Assim, o tempo mesmo quis ser tintas, pincel e cinzel. Para forja, para estufa, para torno usou épocas, pessoas, labores, ambientes e a expôs às mais complexas e variadas emoções.
Ante a possibilidade de que as causas externas projetadas no amálgama incipiente que era ela tivessem efeitos imprevisíveis, o tempo pediu a Deus que a prouvesse de uma alma tal que, mesmo encarnada, transcendesse sempre aos sentimentos humanos. E essa transcendência fazia os sofreres mais sofridos, as dores mais doídas, a solidão mais solitária; intensificava as angústias, engrossava as lágrimas, tornava mais incontidos os soluços. Mas, a mesma transcendência a fazia ir lentamente captando ensinamentos nos fatos, nos erros, nas opressões, nos desprezos. A mesma transcendência a fazia entender, compreender, e, ao invés de acumular mágoas, ter desabrochado, no lugar de cada uma, um embrião de sensibilidade.
Não sei precisar se o tempo, na laboriosa faina de a compor, andou tendo dúvidas, ou se trabalhou sempre seguindo o mesmo plano.
O mais provável é que ela tenha influenciado o processo, condicionando o seu criador, o qual, diante de cada esboço concluído, iniciava o seguinte dentro da inspiração inicial, mas sofrendo naturais influências do que tinha diante de si.
Não é o poeta que faz a poesia – E, sim, a poesia que condiciona o poeta.
E pela vida afora o tempo a foi fazendo.
Deu-lhe têmpera no trabalho árduo, nas contradições, nas incompreensões, nos sofrimentos vários.
Burilou-a na escola primária da mestra inesquecível, no gosto pela leitura, nas convivências, nas tantas vivências.
Preparou-a. Aguçou-lhe a sensibilidade. Aprimorou-lhe as faculdades intelectuais...
Na atmosfera da Capital Velha, berço da cultura de Goiás, deixou-a exposta longos e importantes anos para que reunisse em si, os elementos que lhe facultassem extrair de outras vivências, das andanças, das viagens, das novas moradas; ensinamentos, beleza, poesia e também a capacitassem, a, em qualquer lugar ou circunstância, ser incansável e produtiva.
Como seu criador inspirava-se na Aninha de hoje para criar a Cora de amanhã, ela nunca atingiu o estágio final. Todo o dia o tempo a fazia uma nova Cora Coralina.
E, do burilar contínuo, dos retoques do pincel, do constante recriar é que tivemos a menina inzoneira, chorona, sabida demais; a moça bonita, metamorfose da menina feia; a doceira; a mulher decidida, trabalhadeira, criativa e finalmente, para que vislumbrássemos um pouco de seu incalculável conteúdo, para que a compreendêssemos mesmo sem sermos capazes de segui-la em seu constante aperfeiçoamento; a revelou na poesia.
E a poetisa surgiu com toda a força de um saber acumulado desde o século passado, com o prodígio de uma memória capaz de lembrar detalhes mínimos dos mais antigos fatos, de objetos já consumidos, de pessoas já há longos anos idas...
E a poetisa veio com um vocabulário tão belo, tão rico, tão elegante...
E a poetisa nos encanta com uma tão aguda sensibilidade frente à complexidade do contexto social, diante da simplicidade das pessoas simples, da natureza, dos objetos; encanta-nos enfim, pela bela, perfeita e sutilíssima visão que nos deu da vida.
Cora Coralina, amada das gentes, dos intelectuais, de todos quantos já a ouviram ou leram seu poemas.
Deusa que extravasou a sua sensibilidade, encantando os outros.
Musa que na beleza de sua figura de anciã seguia inspirando tantas expressões de afeto e admiração.
Que o tempo, seu criador, continue apaixonado pela obra que criou e siga a recriá-la sempre, todos os dias, para que outras gerações tenham também o privilégio de conhecê-la, pelos testemunhos, por sua obra de extrema beleza e sensibilidade, pelo seu saber e pelo exemplo de vida que deixou.
22.10.l983 -- Rilmar